
No mês de junho, marcado por celebrações juninas, a sanfona se destaca como um dos símbolos mais amados da cultura brasileira. O músico alagoano Anderson Fidellis compartilha sua trajetória e a importância desse instrumento em sua vida, ressaltando que a sanfona é a verdadeira companheira dos sanfoneiros, como bem expressou Luiz Gonzaga ao afirmar que “essa sanfona sempre foi minha dona e tem valor de estimação”.
A sanfona, também chamada de acordeon ou gaita, chegou ao Brasil com imigrantes italianos e alemães. Inicialmente popularizada no Sudeste, ela se espalhou pelo Norte do país, especialmente através dos soldados nordestinos que participaram da Guerra do Paraguai, e ganhou notoriedade com Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.
Este instrumento é complexo, composto por três partes principais: o teclado, que produz a melodia; o fole, que movimenta o ar; e os baixos, que garantem a harmonia. Fidellis destaca as dificuldades para adquirir uma sanfona, que pode ser cara, e a necessidade de tempo e dedicação para aprender a tocá-la. “Primeiro é comprar uma, segundo é ter tempo pra aprender porque não é fácil não”, comenta o músico.
A sanfona de oito baixos, uma variação do instrumento, é considerada ainda mais desafiadora. “É uma arte que está em extinção, principalmente a sanfona de oito baixos, que é muito difícil de ser tocada”, explica o jornalista Paulo Poeta. Ele acrescenta que as notas são produzidas no fole, tornando o aprendizado ainda mais complicado.
A Influência de Luiz Gonzaga
O nome de Luiz Gonzaga é indissociável da sanfona, sendo uma grande inspiração para Fidellis, que toca há 17 anos. Ele busca entender as raízes do baião, refletindo sobre como os músicos da época de Gonzaga expressavam a cultura nordestina. “A forma como se coloca a poesia, a estrutura da poesia, os acordes, as harmonias, tudo isso vem do Luiz Gonzaga”, afirma Fidellis.
Durante as festas juninas, a sanfona ganha destaque, unindo-se à zabumba e ao triângulo para criar o ritmo contagiante do forró. Fidellis acredita que essa paixão pelo forró é inata no nordestino, ressaltando que o gênero musical é considerado um patrimônio cultural do Brasil.
No contexto alagoano, o trabalho de afinadores como Seu Cecílio, de 87 anos, é fundamental para a preservação da sanfona. Ele, que mantém o ‘Hospital das Sanfonas’ em Arapiraca, destaca a importância do amor pela música para quem deseja tocar. “Se tiver amor à música vai aprender! Tem que ter o ritmo”, diz.
Seu Cecílio também lamenta a falta de festividades dedicadas ao forró em Arapiraca, apesar da grande quantidade de sanfoneiros na região. Paulo Poeta complementa que a cidade já foi um polo cultural, onde a feira local era um ponto de encontro para a música, literatura de cordel e outras expressões artísticas.
Assim como Fidellis, que cresceu imerso na cultura do forró, a história de Seu Cecílio com a sanfona é marcada por laços familiares e a herança musical. Ele começou a tocar ainda na infância e, após se apaixonar pelo instrumento, nunca mais parou.
A sanfona, com sua rica história e conexão emocional, continua a resistir ao passar do tempo e à desvalorização, permanecendo como um verdadeiro instrumento do povo.