
Em Porto de Pedras, Alagoas, a tradição de usar máscaras vai muito além do carnaval, permanecendo viva durante todo o ano e inspirando as novas gerações. A confecção dessas máscaras, que combina barro e papietagem, se tornou um símbolo de resistência cultural, preservando a identidade local.
Mestre Gilberto, reconhecido como Patrimônio Vivo de Alagoas, e o artesão Thiago Silva são os guardiões desse legado, transmitindo seus conhecimentos de geração em geração. Essa prática tem um papel fundamental na formação cultural de crianças e adolescentes da região.
As máscaras de Porto de Pedras são conhecidas pela sua diversidade de formatos, refletindo a criatividade e autenticidade de cada mascareiro. Entre as inspirações mais comuns estão os animais e figuras humanoides. Thiago Souza, integrante do grupo Bobo Gaiato e mascareiro, destaca que o processo de criação é minucioso e repleto de significados. Cada máscara carrega uma identidade única, definida por suas cores, modelagem e o peso emocional que representa.
O processo de confecção das máscaras envolve várias etapas:
- Peneiramento e hidratação do barro;
- Secagem ao sol;
- Aplicação de camadas de papel e cola;
- Acabamento nas bordas e detalhes como olhos e boca.
Thiago recorda que sua primeira máscara foi feita com papel no quintal de um amigo. Embora não tenha sido sua melhor criação, ela preservou características do material utilizado. A escolha das cores é igualmente importante, com o uso de tons vibrantes como vermelho, amarelo e verde, que visam transmitir energia durante as festividades.
Legado de Mestre Gilberto
Mestre Gilberto começou a confeccionar máscaras aos 12 anos e, ao longo de sua vida, dedicou-se a ensinar jovens alagoanos sobre a tradição. Thiago Souza é um dos aprendizes que se beneficiou desse conhecimento. Ele ressalta que a influência de Gilberto foi crucial em sua formação como artesão e mascareiro, destacando a importância de manter viva a cultura popular.
Atualmente, Thiago se empenha em dar visibilidade às práticas culturais por meio de festivais, exposições e oficinas para crianças e adolescentes. Seu objetivo é garantir que a tradição das máscaras continue a ser valorizada e perpetuada.
1ª Festa do Bobo: um projeto social
Thiago lidera o projeto social Bobo Gaiato, que visa integrar crianças e adolescentes à cultura tradicional de Porto de Pedras. Ele também ocupa o cargo de superintendente da Juventude do Estado de Alagoas e enfrenta o desafio de atrair os jovens para as tradições regionais em um mundo cada vez mais digital.
“Quando eles participam das oficinas e experimentam a confecção das máscaras, se encantam. O desafio é mostrar que essa tradição é viva e pode ser parte de suas vidas também”, explica.
A 1ª Festa do Bobo, realizada em três dias, teve como foco a integração cultural, com música, exposições e oficinas para a confecção de máscaras. A exposição Gilberto Vai Ficar! foi um dos destaques, apresentando máscaras do mestre Gilberto, que foram entregues ao fotógrafo Celso Brandão.
São Paulo Fashion Week
O artesanato de Porto de Pedras também ganhou destaque nas passarelas da São Paulo Fashion Week. A marca FOZ, do estilista Antônio Castro, contratou Thiago e sua equipe para criar chapéus com máscaras tridimensionais, utilizando as mesmas técnicas tradicionais. Thiago está tentando viabilizar passagens aéreas para três jovens do projeto Bobo Gaiato, proporcionando a eles a oportunidade de participar do evento.
Diferenças entre as tradições
As tradições de carnaval em Maceió e Porto de Pedras apresentam diferenças marcantes. Enquanto as máscaras de Porto de Pedras são feitas de barro e papel, na capital alagoana, elas são confeccionadas com tecido. Apesar das diferenças, ambas as cidades celebram a cultura popular com cortejos e eventos.
Em Maceió, o Bloco do Bobo realiza oficinas de confecção de máscaras durante o carnaval, enquanto em Porto de Pedras, os bobos animam as festividades com danças e brincadeiras, acompanhados por trompetes e tambores.