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Alagoas lidera a produção de lúpulo no Nordeste
26 de março de 2025 / 10:07
Foto: Divulgação

A produção de lúpulo em Alagoas tem se consolidado como um marco para o setor cervejeiro nordestino. A Fazenda Sete Léguas, em União dos Palmares, se destaca como a primeira área de cultivo em escala comercial na região, abrindo caminho para a autossuficiência das cervejarias artesanais locais, que ainda dependem da importação desse insumo essencial.

Na última segunda-feira (24), o estado celebrou o 2º Dia da Colheita do Lúpulo, evento promovido pela Hop is All, pioneira no cultivo do ingrediente, em parceria com o Sebrae Alagoas, a Embrapii e o Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene). O encontro marcou a quinta safra da cultura no estado e reuniu produtores rurais, técnicos, pesquisadores e representantes da agroindústria cervejeira, consolidando Alagoas como referência na produção de lúpulo no Nordeste.

O Nordeste tem experimentado um crescimento expressivo no mercado de cervejas artesanais, com novas microcervejarias surgindo e investindo na qualidade e identidade regional de seus produtos. No entanto, a produção de lúpulo sempre foi um desafio, pois o insumo, majoritariamente importado, eleva custos e dificulta a competitividade das cervejas nordestinas.

A aposta de Alagoas na produção local se torna, portanto, um divisor de águas. Com o cultivo do lúpulo adaptado ao clima nordestino, os produtores podem reduzir a dependência externa e criar uma identidade própria para as cervejas regionais.

Pesquisa e inovação no cultivo de lúpulo

O evento contou com apresentações de especialistas, como o entomologista Elio Guzzo, da Embrapa Tabuleiros Costeiros, que discutiu as pesquisas sobre insetos e ácaros que afetam a cultura. A fitopatologista Selma de Holanda e a pesquisadora Walane Ivo também compartilharam estudos sobre a adaptação do lúpulo ao solo nordestino.

O Cetene, por meio do BiotecCetene, tem desempenhado um papel essencial ao investir na micropropagação de mudas de alta qualidade genética e fitossanitária. Segundo o coordenador da unidade, Dr. James Melo, a biofábrica do centro tem capacidade para fornecer mudas em larga escala, garantindo uma produção mais robusta e sustentável.

Por que o lúpulo é essencial?

O lúpulo é uma planta rica em compostos conhecidos como metabólitos secundários, que desempenham um papel fundamental na produção de cerveja. Entre esses compostos, destacam-se as resinas macias, divididas em α-ácidos e β-ácidos.

Os α-ácidos (humulonas) e β-ácidos (lupulonas) são responsáveis pelo amargor característico da cerveja. Esses ácidos amargos representam entre 4% e 20% da composição do lúpulo seco, sendo que os α-ácidos variam entre 1,5% e 13% dessa proporção, podendo atingir concentrações de até 20% em algumas variedades específicas.

Além dos ácidos amargos, o lúpulo também contém mais de mil óleos essenciais, que são substâncias aromáticas extraídas de plantas por destilação a vapor ou água, conforme definido pela norma ISO 9235:2013. Esses óleos, produzidos nas glândulas de lupulina, correspondem a aproximadamente 0,5% a 3% da massa total do lúpulo seco e são os grandes responsáveis pelos aromas e sabores diferenciados das cervejas.

A depender da variedade e do terroir em que foi cultivado, o lúpulo pode conferir notas amadeiradas, cítricas, florais, frutadas, herbais, picantes, resinosas, terrosas e até com toques de especiarias. Além disso, durante a fervura do mosto, ocorre a isomerização dos ácidos do lúpulo, processo químico que intensifica seu amargor característico.

Dessa forma, o lúpulo é um ingrediente essencial na identidade sensorial da cerveja, influenciando seu sabor, aroma e amargor. Sua presença é determinante para a complexidade e singularidade de cada receita, tornando-o um elemento indispensável para a produção cervejeira de qualidade.

Dessa forma, o pioneirismo alagoano não apenas fortalece o estado como referência na produção de lúpulo, mas também abre oportunidades para que outros estados do Nordeste sigam o mesmo caminho. A demanda por insumos locais cresce à medida que o mercado cervejeiro regional se expande, e a produção de lúpulo no Nordeste pode se tornar um diferencial estratégico para a identidade e competitividade das cervejarias artesanais.

Assim, se o cultivo continuar avançando, Alagoas poderá se consolidar como um polo de inovação e fornecimento de lúpulo para toda a região, garantindo não apenas um insumo de qualidade, mas impulsionando a economia e a cultura cervejeira nordestina.