
A Universidade Federal do Piauí (UFPI) enfrenta uma situação crítica em relação à acessibilidade para alunos surdos. A estudante Ana Beatriz Aragão, de 20 anos, que está no primeiro período do curso de arquitetura e urbanismo, não está recebendo o suporte de um intérprete de Libras, essencial para seu aprendizado. Para contornar essa dificuldade, familiares e colegas se mobilizaram e decidiram arcar com os custos de um profissional, garantindo que Ana não fique prejudicada nas aulas.
Ana Beatriz expressou sua frustração ao relatar que, ao ingressar na universidade, não encontrou as condições adequadas de acessibilidade. “Quando eu cheguei aqui não tinha acessibilidade em libras. Me senti muito prejudicada nesse sentido. Minha mãe sempre auxiliou alguém para estar aqui junto para fazer essa acessibilidade”, desabafou a jovem.
Ela espera que a UFPI tome providências e contrate um intérprete o quanto antes. “Para [eu] conseguir fazer de fato esse curso. Minha vontade é de permanecer, não estou com o intuito de desistir”, afirmou.
A UFPI reconheceu que a principal dificuldade para a contratação de intérpretes de Libras é a extinção do cargo durante o governo anterior, o que impossibilita a realização de concursos públicos. Além disso, a falta de previsão orçamentária para o ano dificulta a realização de um seletivo.
“A alegria da aprovação se tornou tristeza”
Maria Aparecida Aragão, mãe de Ana, comentou sobre a situação. Desde o início, ela tem se mobilizado para garantir a acessibilidade da filha na universidade. “Foi uma alegria quando ela foi aprovada, mas quando vimos essa situação foi uma tristeza, ela chorou muito e quis desistir”, relatou.
Maria questionou: “Como abrir vagas para pessoas com deficiência se não há profissionais para acompanhar esses alunos?” Ela expressou sua frustração ao perceber que uma instituição de grande porte como a UFPI não oferece a acessibilidade esperada, especialmente após terem conversado com o núcleo de acessibilidade da universidade.
Colegas se unem para ajudar
Para garantir que Ana não perdesse o conteúdo das aulas, seus colegas organizaram uma vaquinha online. O custo para contratar um intérprete é de aproximadamente R$ 150,00 por hora, e muitas vezes é necessário contratar dois profissionais para cobrir a carga horária do curso. Emanuel Gomes, um dos estudantes envolvidos, comentou: “A gente se juntou e divulgou nas redes sociais para que tivesse um alcance maior e mais pessoas pudessem ajudar a gente nessa questão”.
Questões burocráticas
Fábio Passos, coordenador da Coordenação de Inclusão, Diversidade, Equidade e Acessibilidade (COIDEIA), explicou que a situação é complexa e envolve questões burocráticas. “Não tem o que a gente fazer. É uma estrutura. Tem processos licitatórios, abertura de editais e toda uma demanda que precisamos seguir dentro da universidade”, afirmou.
Ele também mencionou que está sendo avaliada a possibilidade de contratação temporária de um intérprete. “Estamos fazendo todo o esforço. Estamos nos comunicando desde quando soubemos dessa situação. Todos estamos imbuídos de conseguir solucionar essa demanda”, concluiu, ressaltando que a intenção é resolver a situação o mais rápido possível.