
Produtores de mel enfrentam sérios desafios devido à recente imposição de tarifas pelos Estados Unidos, resultando em um prejuízo significativo de mais de R$ 2,5 milhões em apenas 15 dias. O apicultor José Claro de Sousa, por exemplo, transferiu mais de 600 enxames do Piauí para o Maranhão na esperança de continuar sua produção e escapar da seca. No entanto, ele ainda não consegue prever a colheita, uma vez que os preços do mel caíram após o anúncio do tarifaço do presidente Trump.
“Todo ano a gente faz isso para ter produção o ano inteiro de mel e manter os enxames. Com esse tarifaço aí tá complicado, porque a gente precisa pensar além da boa colheita, em um bom preço do mel. O preço normal é uns R$ 18,50, o quilo, e eu recebi a notícia que estão começando a comprar a R$ 15”, comentou o apicultor.
A colheita, que deveria iniciar entre os dias 5 e 10 de agosto, foi adiada por José em cerca de 15 dias, na expectativa de que os preços melhorem.
Samuel Araújo, empresário e principal exportador de mel do Brasil pelo Grupo Sama, destacou que os Estados Unidos representam cerca de 75% das exportações do produto. “Houve cancelamento de embarque, mas não cancelamento de contrato, porque eles precisam do mel de qualquer forma. Hoje o grande problema que a gente tem é a incerteza”, afirmou Araújo, ressaltando a responsabilidade com os colaboradores e a cadeia de fornecimento, que inclui 85% de produtores da agricultura familiar.
Caso a tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras entre em vigor, prevista para o dia 1º, mais de 12 mil famílias de pequenos apicultores do Piauí serão diretamente afetadas.
Exportadores buscam novos mercados
Diante das dificuldades no mercado norte-americano, o Grupo Sama está buscando diversificar seus destinos de exportação. Países como Alemanha, Holanda, Bélgica, Dinamarca, Canadá, Japão, China e Emirados Árabes estão sendo considerados como novas oportunidades.
“Temos um produto com demanda global superior à oferta, produzido com práticas sustentáveis e qualidade reconhecida internacionalmente. Por isso, estamos ampliando nosso alcance internacional e avaliando alternativas estratégicas à suspensão temporária de pedidos por parte de clientes norte-americanos”, declarou Samuel Araújo, CEO do Grupo Sama.
O momento atual é de reorganização logística e fortalecimento de relações com países que oferecem estabilidade regulatória e preços competitivos, sendo o mercado europeu um dos mais receptivos para aumentar as importações.
Impacto econômico da tarifa para o setor
O tarifaço de Trump, anunciado em 9 de julho, resultou no cancelamento imediato de grandes encomendas de mel orgânico brasileiro para os Estados Unidos. Nos últimos 15 dias, 152 toneladas do produto deixaram de ser exportadas. Apesar dos problemas com as datas de embarque, os contratos com os clientes permanecem ativos.
O Piauí, conhecido pela qualidade do seu mel, especialmente o mel orgânico certificado, se destacou em 2024 como o maior exportador de mel para os EUA, mesmo não sendo o maior produtor. “O Piauí é o 22º estado em exportações gerais para os EUA. Mesmo assim, tem uma relação muito forte. Em torno de 85% da nossa exportação de mel vai para o mercado americano”, destacou Islano Marques, gestor corporativo da Área Internacional e Mercado da Federações das Indústrias do Piauí (Fiepi).