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Artesão de Salvador mantém tradição de conserto de brinquedos há 40 anos no hospital de bonecas
13 de julho de 2025 / 11:22
Foto: Divulgação

Na capital baiana, um espaço dedicado à restauração de bonecas, conhecido como “Hospital de Bonecas”, tem atraído a atenção de quem passa pela Rua da Mesquita, nos Barris. O local, gerido pelo artesão aposentado Rosalvo Bonfim, de 71 anos, se destaca em meio à popularidade dos bebês reborn, bonecos hiper-realistas que podem custar milhares de reais.

O pequeno estabelecimento é repleto de materiais de trabalho, como sacos com cabeças de bonecas, tecidos e fibras de poliéster, além de exibir em suas prateleiras brinquedos já restaurados. Rosalvo começou sua trajetória no conserto de bonecas ainda na adolescência, aos 15 anos, e após um tempo, decidiu abrir seu próprio negócio.

Durante sua jornada, Rosalvo enfrentou preconceitos e críticas, com pessoas questionando sua masculinidade e o considerando alguém que “brincava de boneca”. No entanto, ele se mantém firme em sua paixão pelo ofício e destaca a importância de olhar para frente. “O que falam, o que dizem… a mim não interessa. O que interessa é o que eu sou”, afirma.

Atualmente, o artesão dedica-se integralmente à restauração de brinquedos, incluindo itens antigos como aviões e carrinhos, mas sua verdadeira paixão são as bonecas. Ele enfrenta desafios na busca por peças de reposição, uma vez que os materiais utilizados atualmente são menos duráveis. “Hoje, o tipo de material que estão usando é um cami, que dura pouco. Eu trabalho com material mais resistente, dura bem mais”, explica.

Os preços para os reparos variam entre R$ 120 e R$ 280, e como é comum nesse tipo de serviço, o cliente paga metade do valor antes da entrega. A restauração das bonecas envolve não apenas a troca de roupas, que são encomendadas a uma costureira parceira, mas também o revestimento interno com poliéster e a recuperação dos cabelos.

Rosalvo sonha em expandir seu negócio, criando um espaço maior que funcionaria como uma UTI (Unidade de Terapia Intensiva) para brinquedos, com uma sala para clientes e um ambiente dedicado aos “pacientes”. No entanto, ele reconhece que a continuidade do seu trabalho pode estar ameaçada, já que seus filhos e netos não demonstram interesse em seguir seus passos. Ele acredita que o apoio do governo poderia ser crucial para a preservação desse ofício.

Apesar da crescente popularidade dos bebês reborn, Rosalvo não viu seu trabalho ser impactado. Ele já restaurou alguns desses bonecos, mas mantém sua crítica em relação à qualidade da confecção. “Eles são presos com pino. Geralmente com movimento, às vezes até a própria borracha começa a ressecar e aí folga os pinos, solta. Eles fazem a coisa mesmo para dar defeito”, afirma.

Para o artesão, há espaço para todos os tipos de brinquedos no mercado, e ele não se opõe à moda dos bebês reborn, acreditando que cada um deve encontrar seu lugar nas prateleiras, tanto para crianças quanto para adultos.