
A Câmara Municipal de Salvador dará início à restauração de sua estrutura na próxima semana, com foco na reforma do telhado que foi danificado por um incêndio ocorrido no mês passado. A informação foi confirmada pela Casa nesta terça-feira, 18.
De acordo com o presidente da Câmara, vereador Carlos Muniz (PSDB), após a realização do reparo emergencial, que é necessário devido à interrupção das atividades no local, será desenvolvido um projeto para a criação de um museu legislativo. Os detalhes desse projeto ainda estão em fase de elaboração.
As obras serão conduzidas pela Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), designada pela Prefeitura de Salvador. Desde o incêndio, que aconteceu no dia 24 de fevereiro, já foram realizadas quatro vistorias na edificação.
“Estamos focados em uma obra emergencial para proteger o telhado, que sofreu os maiores danos. O restauro provisório será feito com urgência, especialmente com a chegada do período de chuvas, enquanto o projeto maior para o Paço é elaborado”, explicou Tânia Scolfield, presidente da FMLF.
Entenda o incêndio na Câmara
Durante o incêndio, a Câmara foi evacuada. Segundo informações da assessoria, as chamas tiveram início no ar condicionado do Salão Nobre, localizado no primeiro andar, onde ocorrem as sessões. A causa do fogo ainda não foi esclarecida. Imagens registradas por transeuntes mostraram uma densa fumaça saindo do prédio.
O combate ao incêndio foi interrompido no final da tarde, após a atuação de 50 bombeiros com 14 viaturas. No entanto, por volta das 19h, as chamas ressurgiram, exigindo que os bombeiros retornassem para continuar o trabalho durante a noite.
A Defesa Civil de Salvador (Codesal) informou que, além do Salão Nobre, salas adjacentes também foram danificadas. O setor afetado e a área abaixo dele foram isolados devido ao risco de colapso causado pelo peso da água utilizada para apagar o incêndio e realizar o rescaldo. O órgão notificou a administração da Câmara para que análises estruturais fossem feitas, com acompanhamento de um profissional qualificado.
O prédio, que possui três andares (subsolo, térreo e primeiro andar), é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A localização da Câmara é próxima a importantes pontos turísticos da capital baiana, como o Elevador Lacerda e o Pelourinho. Devido à interdição do local, as sessões da Câmara foram transferidas para o Centro de Cultura da Câmara, situado ao lado da Prefeitura de Salvador. Além disso, alguns setores foram deslocados para outros locais e parte dos funcionários está trabalhando em home office.
História da Câmara Municipal de Salvador
A Câmara Municipal de Salvador é a primeira a ser construída no Brasil entre as capitais, datando de 1549, o mesmo ano da fundação da cidade. Ao longo dos séculos, o edifício passou por diversas transformações, evoluindo de uma construção simples de taipa e palha para a estrutura mais semelhante à atual, que foi erguida em 1696.
O professor e historiador Jaime Nascimento destacou que a aparência atual é resultado de uma restauração realizada na década de 1970, após uma reforma radical no final do século 19, que conferiu ao prédio características neoclássicas, incluindo a instalação de um relógio onde hoje está o sino.
A Câmara também serviu como sede da Prefeitura até que o governo foi transferido para o Palácio Rio Branco. Nesse período, a Praça Municipal funcionava como a Praça dos Três Poderes, um conceito que só foi oficialmente adotado em 1960, com a inauguração da praça em Brasília, que abriga os edifícios dos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.
“A Câmara tinha funções legislativas, pois não existia um poder estadual na época. O Governador da Capitania acumulava as funções do poder estadual e, ao mesmo tempo, a Câmara exercia papéis legislativos e executivos, criando e aplicando leis”, explicou o professor Jaime.