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Casas destruídas e avanço do rio e do mar: os reflexos da erosão que atinge 68 km da costa de Sergipe
21 de dezembro de 2024 / 07:41
Foto: Defesa Civil/ Estância

A imagem de uma casa de primeiro andar destruída às margens do Rio Piauí, na Ponta do Saco, Sul de Sergipe, acendeu um alerta para o agravamento da erosão na costa do estado. Atualmente, 68 km dos 147 km do litoral sergipano têm erosão intensa ou moderada, segundo estudo da Universidade Federal de Sergipe (UFS).

A erosão que atinge o estado de Sergipe é de dois tipos: fluvial e costeira. A️ fluvial pode ser um processo natural ou induzido por ação humana, e é caracterizada pela perda contínua de sedimentos das margens, sendo levados para o leito do rio. Já a erosão costeira ocorre quando o balanço de sedimentos de uma praia é negativo, ou seja, quando ela perde mais sedimentos do que recebe. O avanço do mar ou do rio é uma consequência deste processo.

A dona do imóvel destruído, Cristina Rocha, comprou a casa em 2015, e, segundo ela, o imóvel não tinha nenhuma rachadura nas paredes ou sinal de avaria e ficava a cerca de 200 metros da água com a maré baixa. Na maré alta, essa distância dimuía para poucos metros. Mas, em agosto deste ano, parte do imóvel ruiu. “De uma hora para a outra, o problema apareceu”, disse.

Ainda de acordo com a empresária, o prejuízo chega a mais de R$ 1 milhão, considerando o valor do imóvel e contratos de aluguel, uma vez que ele também era alugado para eventos.

“Tive de devolver o dinheiro para alguns clientes”, afirmou ela, que não poderá mais alugar o espaço na próxima temporada de verão. Ela disse também que sabia que havia uma decisão judicial que impedia reformas nos imóveis da região, mas acreditou a medida seria ‘derrubada’.

De acordo com o pesquisador da UFS, Júlio César Vieira, nesse caso, essa erosão foi provocada pela ocupação irregular em uma área que antes era estabilizada por restingas e manguezais.

“É importante pontuar que uma situação de desastre dessa natureza não se configura de forma repentina. São anos e até décadas de falhas nos princípios básicos de boas condutas na ocupação desses territórios ambientalmente sensíveis. De forma que na Ponta do Saco não é possível colocar a causa desses desastres nas mudanças climáticas e alterações do nível do mar”, explicou o pesquisador.

Ainda segundo Júlio César Vieira, o problema também está relacionado a construções indevidas de quebra-mar, feitas a partir de iniciativas individuais e descriteriosas, o que agrava os eventos erosivos.

“É preciso compreender que tudo que acontece no continente, terá reflexo nas regiões litorâneas. Por exemplo, quando as matas ciliares de um rio, como o Piauí, são devastadas, quando suas nascentes são atrofiadas e o rio acaba por perder vazão, isso terá reflexo direto na região da sua desembocadura, já que o perfil de equilíbrio entre rio e mar será alterado”, explicou o pesquisador.

A construção da Ponta do Saco não foi a única afetada na área, divisa de Sergipe com a Bahia. Parte dos moradores já deixou o local, e tradicionais bares em palhoças foram abandonados.

Em 2018, a água chegou a ‘abocanhar’ parte do terreno frontal da Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem, que fica localizada a cerca de 300 metros da casa que desabou.

“Todo aquele trecho [ da igreja] continua sob risco. E a prova disso é a questão de que o muro de contenção e o quebra-mar do trecho está ruindo pela ação das ondas e correntes. Então hoje os dois lotes vizinhos à casa que desabou estão sob risco iminente. E isso vai expandir”, alertou o pesquisador.

Já na porção ao norte de Sergipe, afetada pela erosão costeira, estão: Abaís (em Estância) e Caueira (em Itaporanga d’Ajuda), e Brejo Grande, onde, no fim dos anos 1990, o avanço do mar deixou o Povoado de Cabeço submerso, e famílias tiveram de ir para uma comunidade a cerca e 100 km da capital Aracaju.

“A causa do desaparecimento [do povoado] continua até hoje, é a perda da vazão do Rio São Francisco. Estes são visíveis em todo o litoral de Brejo Grande, mas se estendem além do município. É uma perda bruta de água chegando ao mar. O principal agente que mantém o equilíbrio do nosso litoral, através do aporte de sedimentos, são os rios e não o mar”, disse o pesquisador.

Vieira acrescenta ainda que em Brejo Grande toda a linha de praias está passando por uma redução severa e, em alguns pontos, o mar adentra livremente o manguezal, causando sua mortandade.