
O ritmo contagiante do coco de roda é uma das mais importantes expressões do folclore alagoano, representando a resistência e a sabedoria do povo. Com o objetivo de celebrar o Dia do Folclore, que ocorre em 22 de agosto, foram reunidas as histórias de duas figuras emblemáticas do coco de roda: Mestra Zeza do Coco, considerada patrimônio vivo do estado, e a antropóloga e artista Juliana Barretto. Essa data é uma oportunidade para promover a cultura popular e proporcionar uma imersão nas tradições que moldam a identidade dos brasileiros.
A dança do coco é marcada pela forma como os pés dos dançarinos tocam o chão, acompanhando o ritmo das canções entoadas por um cantador, que lidera a roda. Essa dança é realizada em círculo, em pares ou fileiras, e possui influências africanas e indígenas, com raízes que remontam a uma dança negro-africana. Muitos acreditam que o coco tem suas origens no Quilombo dos Palmares, em União dos Palmares, onde os negros criaram essa expressão cultural, fortemente influenciada pelas cantorias durante a construção de casas de pau-a-pique.
Embora essa versão seja amplamente aceita, a história do coco foi transmitida oralmente por várias gerações, sofrendo modificações ao longo do tempo. Juliana Barretto destaca que o coco desempenha um papel crucial na formação das identidades comunitárias, pois surge da vivência coletiva, do canto e da dança, valorizando a cultura popular ao reconhecer os saberes do povo como formas legítimas de conhecimento, arte e educação.
A dança do coco é um símbolo de resistência, promovendo o afeto, o encontro e a celebração da vida em comunidade. Juliana enfatiza que o coco alagoano desafia hierarquias tradicionais, pois não requer um palco específico; a apresentação ocorre na roda, onde o público participa ativamente, interagindo com o corpo e a voz, refletindo uma crítica às formas dominantes de produção cultural.
Os mestres e mestras do coco desempenham um papel fundamental na preservação dessa cultura popular. Eles não apenas ensinam a dança, mas também atuam como educadores, líderes comunitários e referências vivas da tradição. Juliana explica que esses mestres transmitem valores éticos e afetivos, mantendo viva a memória e a tradição do coco por meio da oralidade e da convivência.
O povo alagoano é conhecido por transformar suas dores e vivências em expressões culturais vibrantes. O coco serve como um meio de expressar crenças e emoções. Por exemplo, as canções de Mestre Verdelinho (In Memoriam) transmitem sabedoria sobre a natureza, enquanto Mestra Zeza transforma o Rio São Francisco em poesia, conectando o território à memória cultural alagoana.
Mestra Zeza do Coco, patrimônio vivo de Alagoas, compartilha que a tradição do coco em Maceió existe há mais de 300 anos, enraizada nas construções de casas de pau-a-pique. Ela vem de uma família de brincantes e ensina a arte do coco para seus filhos e netos, perpetuando a tradição em seu bairro, Bebedouro, em Maceió.
A juventude alagoana não abandonou o coco; ao contrário, muitos jovens reconhecem essa prática como um espaço vital de expressão cultural. Juliana Barreto ressalta que a participação dos jovens em grupos culturais e oficinas é fundamental para a renovação do coco de roda, trazendo novas linguagens e perspectivas, garantindo a continuidade e o fortalecimento dessa tradição diante dos desafios contemporâneos.
A importância do coco de roda em Alagoas é inegável, e sua preservação é um esforço coletivo que une gerações em torno da cultura e da identidade local.