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Com pior saneamento do Ceará, moradores de Juazeiro do Norte enfrentam problemas de saúde
27 de novembro de 2024 / 15:20
Foto: Patrícia Silva/TV Verdes Mares

Juazeiro do Norte tem a pior cobertura de saneamento básico do Ceará, de acordo com dados do Trata Brasil 2024. O município tem apenas 23,41% de cobertura de esgotamento. Dentre os locais que mais chamam atenção, está o maior mercado público da cidade, o do bairro Pirajá, que não possui ligação com a rede de esgoto. O local recebe milhares de visitantes por mês. Entre os produtos comercializados, frutas e verduras bem próximos a esgotos a céu aberto.

Para a permissionária Francisca Vieira, o problema tem causado perdas no faturamento das vendas. Ela faz parte dos quase mil comerciantes que trabalham no local.

“Esse problema é de muito tempo. Sempre a gente vê reclamação dos clientes. Perguntam como a gente consegue trabalhar nesse mau cheiro. A gente se sente mal, perde venda, sem falar n mercadoria, que vem bactéria também, que é o pior!”

Além dos prejuízos financeiros, a saúde é uma das principais preocupações.

“Muitas pessoas já adoeceram de gripe, virose, de tudo, adoece dos pés também, dá frieira, um bocado de coisa. Mas a gente tem que trabalhar!”, enfatiza o permissionário José Gomes.

Além dos equipamentos públicos, os problemas com a falta de saneamento básico afetam diretamente as residências. Juazeiro do Norte possui hoje 286.120 habitantes. O reciclador Francisco Flávio dos Santos é um deles. Em frente a casa onde ele mora no bairro Romeirão existe um buraco que acumula água de esgoto.

“É aquela lama forte, quando você vai se alimentar, tem que ligar o ventilador, a alimentação nunca desse com aquele gosto saciado. Inclusive, sem contar as doenças. Porque já chegou um tempo da gente faltar ao trabalho por causa de gripe, passar dias acamado, por causa do buraco”, afirma o morador.

Os vizinhos também se incomodam com a situação.

“Eles só vivem doente por conta do mau cheiro. Meus meninos chegaram a faltar a escola por conta que fica muito gripado por conta disso aqui. Porque é muita bactéria, lixo, mau cheiro…e tem a questão de medicação, eu fico gastando sem ter dinheiro, para esses meninos. O de três anos só vive doente.”, reforça a dona de casa Lúcia Neide Pereira Dias.

As enfermidades causadas pela falta de água tratada e ausência do sistema de coleta e tratamento de esgoto acarretam também prejuízos financeiros, com despesas privadas e públicas de saúde. Dados do SNIS 2022 mostram que o Brasil teve mais de 191 mil internações por doenças de veiculação hídrica.

“São inúmeras doenças em decorrência da falta de saneamento básico. Tem a hepatite A que tá muito ligada a falta de uma água tratada, a leptospirose também, verminoses. São doenças que têm importante impacto de acometimento na saúde da população”, afirma o médico sanitarista Álvaro Madeira.

Aprovado pelo Congresso em 2020, o novo Marco Legal do Saneamento determina que 90% da população deve ter acesso à coleta e tratamento de esgoto até 2033.

No Ceará, foi firmada uma Parceria Público-Privada (PPP) para operação e universalização do esgoto.

“A Cagece modelou essa parceria para que fosse mais ágil, mais eficiente e que a gente conseguisse atender toda a população metropolitana do Cariri e metropolitana sul com esgotamento sanitário. A gente vai coletar, tratar e destinar o esgoto de maneira adequada. Explica a coordenadora da Unidade de Negócios de Parceria da Região Metropolitana do Cariri, Juliana Filgueiras.

No município de Juazeiro do Norte as obras começaram em maio de 2023. Dados da Ambiental Ceará mostram que hoje a cidade já conta com 41,42% da de rede de esgoto disponível para os moradores. Entretanto, em diversos pontos, a rede está ociosa, ou seja, as residências poderiam estar conectadas, mas não estão. Essa situação é verificada em 19.106 imóveis juazeirenses. A maior parte destes imóveis fica nos bairros Pirajá e Salesianos, que estão com elevado percentual de cobertura, de 93% e 75%, respectivamente.

Para diminuir os problemas de infraestrutura da cidade, a gestão municipal fez em dezembro de 2023 um empréstimo de 80 milhões de dólares, que inclui macro drenagem, mobilidade urbana e infraestrutura social. Esse valor deve abranger a situação do mercado do Pirajá.

“Essa reforma prevê toda a recuperação, reestruturação do mercado. Desde fundação, estrutura e instalações, incluindo esgotamento sanitário. Os projetos já estão prontos, adiantados. E em breve a gente vai trazer notícias sobre a questão dos prazos”, afirma o secretário de Infraestrutura de Juazeiro do Norte, José Maria Pontes.