
Em 1817, um grupo de revoltosos conseguiu expulsar o governador da época e assumiu o controle de Pernambuco, estabelecendo uma Lei Orgânica que garantia a liberdade de expressão e de imprensa. A bandeira atual do estado, criada durante a Revolução Pernambucana, simboliza essa luta por autonomia.
Nesta quinta-feira (6), o estado celebra o feriado da Data Magna, que proporciona um dia extra de descanso após o carnaval. Apesar do nome peculiar, frequentemente confundido com “Gata Maga”, a data remete a um período histórico significativo, quando Pernambuco se declarou independente do Brasil por 74 dias.
O feriado estadual remete ao início da Revolução Pernambucana, também chamada de Revolução dos Padres, devido à participação de religiosos entre seus líderes. Este movimento, que ocorreu cinco anos antes da Independência do Brasil, foi crucial para o ambiente político que culminou no fim da colonização portuguesa. O professor de história Ricardo Gomes destaca que a revolução foi um teste para a independência do Brasil, questionando por que outras províncias não poderiam seguir o exemplo de Pernambuco.
A rebelião começou em 6 de março de 1817, quando o governador Caetano Pinto de Miranda Montenegro mandou prender um grupo suspeito de conspiração. Um dos presos, o militar José de Barros Lima, conhecido como “Leão Coroado”, desobedeceu a ordem e matou seu superior, o brigadeiro Manoel Barbosa. Esse ato desencadeou a revolta, levando o governador a fugir para o Rio de Janeiro.
Com a fuga do governador, uma junta de governo foi formada, composta por:
- Manoel Correia de Araújo (setor agrário);
- Domingos José Martins (comércio);
- Padre João Ribeiro (clero da Igreja Católica);
- José Luís de Mendonça (magistratura);
- Domingos Teotônio Jorge (forças armadas).
No dia 7 de março, essa junta instituiu uma Lei Orgânica que não apenas proclamava a independência de Pernambuco, mas também assegurava a liberdade de pensamento e imprensa, promovendo um ideal de cidadania sem distinções de classe. O professor Gomes explica que, embora a Lei Orgânica não fosse uma constituição, representava um “sonho de liberdade” em relação a Portugal.
Contudo, o governo provisório não aboliu a escravidão nem implementou reformas agrárias. O liberalismo da época era conservador, e muitos proprietários de terras se opuseram a mudanças que pudessem afetar seus interesses.
Durante sua breve existência, a república pernambucana nomeou um embaixador, Cruz Cabugá, que foi enviado aos Estados Unidos em busca de apoio, mas sem sucesso. A bandeira de Pernambuco, criada nesse período, continua a ser um símbolo do estado até hoje.
A república pernambucana foi oficialmente dissolvida em 20 de maio de 1817, quando tropas portuguesas invadiram o território e cercaram Recife. Como consequência, Pernambuco perdeu a Comarca do Rio de São Francisco, que foi transferida primeiro para Minas Gerais e depois para a Bahia. Vários líderes do movimento foram presos, e alguns, incluindo o “Leão Coroado”, foram executados.
A Data Magna é um feriado civil estabelecido por norma estadual, de acordo com a lei federal 9.093, sancionada em 1995. Em Pernambuco, a data foi escolhida após uma consulta popular realizada pela Assembleia Legislativa e pela Associação das Empresas de Radiodifusão de Pernambuco em 2007. Entre as opções estavam outras datas históricas, mas a escolha recaiu sobre 6 de março. O feriado foi oficialmente instituído em 2017, durante as comemorações dos 200 anos da Revolução Pernambucana.
A programação para a Data Magna inclui um evento oficial no Palácio do Campo das Princesas, com o hasteamento da bandeira e a colocação de flores em homenagem aos revolucionários de 1817. Este ano, o feriado coincide com o dia seguinte à Quarta de Cinzas, permitindo que as festividades de carnaval se estendam. Entre as atividades culturais, destaca-se a gravação do DVD do Padre Fábio de Melo na Praça do Marco Zero, a partir das 19h.