
A governança compartilhada dos manguezais, que se estendem por cinco estados brasileiros — Maranhão, Pará, Amapá, Piauí e Ceará — foi o foco de um debate realizado nesta segunda-feira (17) durante a COP 30. O evento reuniu autoridades, pesquisadores e representantes de comunidades tradicionais para discutir a importância ambiental dessa região, considerada o maior contínuo de manguezais do mundo.
O painel, apresentado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), destacou que os manguezais amazônicos ocupam aproximadamente 3,8 milhões de hectares, abrangendo desde o estuário do Rio Amazonas, no Amapá, até o Ceará. O presidente do ICMBio, Mauro Pires, enfatizou a sensibilidade ecológica dessa área, que é vital para diversas populações tradicionais.
Objetivos do Debate
Durante o encontro, Pires esclareceu que o objetivo principal da discussão era encontrar maneiras de conservar a área sem prejudicar o modo de vida das comunidades que dependem desse ecossistema. Ele mencionou a criação do Comitê do Sítio Ramsar, uma área úmida de grande relevância, para abordar o desenvolvimento do território de forma a conciliar conservação e qualidade de vida.
Gabriele Soeiro, coordenadora nacional do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Sociobiodiversidade (CNPT), destacou que o ICMBio apresentou um modelo inovador de governança, que envolve a participação de povos e comunidades tradicionais, instituições de pesquisa, órgãos governamentais e ONGs. Segundo Gabriele, essa iniciativa visa construir coletivamente regras e estratégias para a gestão do território, com a comunidade atuando como protagonista no processo.
Impactos das Mudanças Climáticas
As mudanças climáticas também foram um tema central na discussão. Gabriele mencionou que os impactos já são perceptíveis, especialmente em áreas costeiras, onde muitas comunidades precisam se adaptar ou até se deslocar. Ela afirmou: “Estamos aprendendo juntos como mitigar esses efeitos e como nos adaptar a essa nova realidade.”
Pires acrescentou que os manguezais desempenham um papel crucial nesse contexto, sendo um dos maiores sumidouros de carbono do planeta, com a capacidade de armazenar de três a quatro vezes mais carbono do que ecossistemas terrestres. Ele também ressaltou que esses ambientes são fontes de biodiversidade e sustentam atividades extrativistas essenciais.
Para aproximar o público da biodiversidade local, o ICMBio trouxe óculos de realidade virtual à COP, permitindo que os visitantes conhecessem de forma imersiva as paisagens da costa maranhense e os manguezais que se estendem do Amapá até Barroquinha, no Ceará. Essa experiência inclui visualizações da zona costeira, dos caranguejos e da diversidade do ecossistema.
Gabriele enfatizou a importância da participação social na busca por justiça climática, afirmando que “não dá para falar de justiça climática sem escuta ativa nos territórios”. Pires concordou, destacando que “não é possível conservar essas áreas sem considerar as centenas de milhares de famílias que vivem nelas”.
Avanços e Desafios
O presidente do ICMBio também mencionou os avanços já alcançados, como a criação de novas reservas extrativistas e o fortalecimento de atividades econômicas sustentáveis. Ele citou o artesanato em crochê produzido por mulheres de comunidades extrativistas, que tem se tornado uma importante fonte de renda e reforçado o vínculo com o território.
Ao se referir ao Maranhão, Pires ressaltou que o estado possui uma riqueza ímpar, com manguezais que fazem parte da cultura, culinária e manifestações tradicionais. Ele finalizou dizendo que o desafio é unir o trabalho cotidiano das comunidades com as grandes questões ambientais, garantindo a conservação dos recursos naturais enquanto promove o desenvolvimento sustentável.
Encontro na Casa Vozes do Oceano
Na sexta-feira (14), um encontro na Casa Vozes do Oceano, no Espaço Cultural Casa das Onze Janelas, também discutiu a importância dos manguezais e o modelo de governança adotado no Sítio Ramsar do Estuário do Amazonas. O evento contou com a participação de comunidades tradicionais, pesquisadores e gestores, que debateram o papel estratégico dos manguezais na Amazônia, que abrange quase 4 milhões de hectares entre o Amapá e o Ceará.
Durante essa reunião, foi apresentado um modelo de gestão que coloca as comunidades no centro das decisões. De acordo com o ICMBio, essa abordagem já demonstrou resultados positivos, como a criação de novas reservas extrativistas e a geração de renda por meio do artesanato e do manejo sustentável. Para o Maranhão, esse estudo é especialmente relevante, pois o estado abriga cerca de 36% dos manguezais brasileiros e possui uma das maiores extensões contínuas desse ecossistema no país.