
Neste sábado (22), Dia Mundial da Água, a Fundação SOS Mata Atlântica divulgou um relatório que destaca a preocupante qualidade das águas do Rio Capibaribe, que atravessa a cidade do Recife. O estudo classifica a água do rio como “ruim”, uma deterioração em relação ao ano anterior.
O relatório, intitulado “O retrato da qualidade da água nas bacias hidrográficas da Mata Atlântica”, abrange dados coletados ao longo de 2024 em 145 pontos de 112 rios em 14 estados. Os locais analisados foram categorizados em cinco níveis: ótima, boa, regular, ruim e péssima. O trecho do Capibaribe foi um dos 20 pontos considerados ruins.
Preocupações com a qualidade da água
O professor de biologia Clemente Coelho Júnior, do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade de Pernambuco (UPE), que participou do projeto, expressou sua preocupação: “Estamos em uma situação intermediária na classe ruim. Desde 2015, temos observado um agravamento, e nosso receio é que cheguemos à classificação péssima”.
O Capibaribe, que se origina em Poção, no Agreste Central de Pernambuco, percorre 42 municípios até desaguar no Oceano Atlântico, em Recife. Em seu percurso de 242 quilômetros, o rio é afetado por resíduos de esgoto e poluição industrial, o que impacta negativamente a saúde das comunidades ribeirinhas.
O estudo coletou amostras em quatro pontos em Pernambuco, sendo dois no Capibaribe: um em Limoeiro, que se manteve “regular”, e outro na capital, que passou de “regular” para “ruim”. Os outros dois pontos analisados, nos rios Jaboatão e Beberibe, apresentaram qualidade regular ao longo do ano.
Fatores que contribuem para a poluição
A pesquisa revela que a baixa cobertura de saneamento básico é um dos principais fatores que contribuem para a poluição das águas. Em Recife, apenas 49,5% da população tem acesso à rede de esgoto, segundo o Ranking do Saneamento Básico de 2024. “Sem a coleta adequada de esgoto, o que acontece com os outros 50%? Eles acabam indo para os rios, resultando em poluição orgânica significativa”, explicou Clemente Júnior.
O professor também destacou que a vegetação de manguezal e o movimento das marés ajudam a manter a vida no Capibaribe, mas não são suficientes para lidar com a quantidade de poluentes despejados no rio. Durante o verão, a vazão de poluentes é três vezes maior do que a do próprio rio, e a renovação proporcionada pelas marés é crucial para a sobrevivência de algumas espécies.
Possibilidades de recuperação
Apesar do cenário desafiador, o biólogo Cesar Pegoraro, da SOS Mata Atlântica, acredita que a recuperação do Capibaribe é possível. Ele citou exemplos de rios que foram revitalizados, como o Tâmisa, na Inglaterra, que já foi extremamente poluído e hoje é seguro para a pesca e o transporte. Pegoraro também mencionou o Rio Jundiaí, em São Paulo, que após anos de esforços de revitalização, teve sua água considerada 100% boa em 2017.
O especialista ressaltou que a recuperação dos rios depende de um esforço conjunto entre o governo, a iniciativa privada e a sociedade. Ele destacou a importância de políticas de tratamento de esgoto e gestão de resíduos sólidos, enfatizando que as indústrias precisam se comprometer com a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
O papel da Compesa e o futuro do saneamento em Pernambuco
Atualmente, o governo de Pernambuco está discutindo a concessão parcial da Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa). A proposta prevê que a Compesa continue responsável pela produção e tratamento de água, enquanto a distribuição será transferida para a iniciativa privada. O estado precisa de investimentos significativos para alcançar a cobertura de 90% de rede de esgoto até 2033, conforme o Marco Legal do Saneamento Básico.
A Compesa reconheceu que o desafio no esgotamento sanitário é enorme e que são necessários cerca de R$ 18,3 bilhões apenas para construir a rede de esgoto. Apesar da deterioração da qualidade da água do Capibaribe, a companhia afirmou que está investindo em projetos de saneamento, como o Programa Cidade Saneada, que já beneficiou mais de 1,4 milhão de pessoas.