
No primeiro semestre de 2025, a Bahia registrou exportações superiores a U$S 45 milhões em manteiga, gordura e óleo de cacau para os Estados Unidos, conforme dados divulgados pela Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb). Entretanto, a recente imposição de tarifas pelos Estados Unidos, que entrará em vigor no dia 6 de agosto, promete impactar negativamente esse setor, especialmente com a nova tarifa de 50% sobre produtos importados do Brasil.
A medida foi oficializada pela Casa Branca no dia 30 de julho e, embora alguns produtos tenham sido isentos, itens como cacau, pneus e café permanecem na lista de produtos afetados pelo “tarifaço”.
Na Bahia, o cacau é cultivado principalmente no sul do estado, em cidades como Ilhéus e Wenceslau Guimarães. Os produtos exportados não são as frutas in natura, mas sim seus derivados, como licor, cacau em pó, manteiga de cacau e pasta de cacau. Esses insumos são fundamentais não apenas para a indústria alimentícia, mas também para os setores farmacêutico e de higiene.
As exportações desses derivados são realizadas por três grandes indústrias com presença no sul da Bahia: Cargill, Joanes e Barry Callebau. A Fieb está em contato com essas empresas para avaliar os impactos da nova tarifa nas exportações.
A Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC) emitiu uma nota alertando que a nova tarifa comprometerá a competitividade das exportações brasileiras de derivados de cacau e solicitou a adoção de medidas diplomáticas e comerciais urgentes. No entanto, a entidade não forneceu detalhes sobre as possíveis perdas financeiras.
Ranking das Exportações de Derivados de Cacau
Os derivados de cacau estão entre os produtos mais exportados pela Bahia para os Estados Unidos. De acordo com a Fieb, 8,3% de todas as exportações da Bahia no primeiro semestre de 2025 foram destinadas aos Estados Unidos, que ocupa a terceira posição, atrás apenas da China (23,6%) e do Canadá (9,4%). A Bahia foi o 11º estado brasileiro que mais exportou para os EUA, totalizando U$S 440 milhões.
Os derivados do cacau ocupam a 2ª e a 9ª posição no ranking dos produtos mais exportados, representando mais de 10% do total das exportações do estado neste ano.
Carlos Henrique Passos, presidente da Fieb, expressou preocupação com os efeitos do “tarifaço” sobre a indústria baiana, destacando que 67% dos produtos industriais do estado estarão sujeitos à nova tarifa. “Isso não é apenas uma tarifa, é um embargo comercial, pois será difícil continuar vendendo para o mercado americano, e nossos compradores não conseguirão absorver esse custo. Precisamos buscar outras soluções”, afirmou.
Ele enfatizou a importância de continuar as negociações com os Estados Unidos para minimizar os danos econômicos. O vice-presidente Geraldo Alckmin também reiterou que as negociações ainda estão em andamento.
O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, comentou que está dialogando com outros governadores do Nordeste e com a presidência da república para encontrar alternativas para os produtos que foram taxados. O Consórcio Nordeste realizará reuniões em Brasília nos dias 5 e 6 de agosto para discutir essas questões.
“Os empresários que exportam se preparam para isso, contratam mão de obra, tomam empréstimos e agora recebem essa notícia. Isso causará prejuízos para os empresários e para a classe trabalhadora, resultando em demissões”, alertou o governador.
Além do cacau, as mangas produzidas no Vale do São Francisco, no norte da Bahia, também serão afetadas pelo “tarifaço”. Parte da produção que seria colhida em setembro tinha como destino os Estados Unidos. Embora o suco e a polpa de laranja tenham sido isentos da tarifa, outras frutas, incluindo a manga, continuam sujeitas à taxa.
A Associação de Exportadores de Produtos Hortigranjeiros do Vale do São Francisco estima que o “tarifaço” poderá reduzir em até 70% as exportações de mangas da região, resultando em um prejuízo aproximado de U$S 30 milhões. Anualmente, a região produz 1,25 milhão de toneladas de mangas, das quais 253 mil toneladas são exportadas, gerando U$S 348 milhões, sendo 53 mil toneladas destinadas aos Estados Unidos.