João Pessoa 26.13 algumas nuvens Recife 27.02 algumas nuvens Natal 26.12 céu limpo Maceió 24.69 céu limpo Salvador 25.98 céu limpo Fortaleza 27.07 nuvens dispersas São Luís 27.11 algumas nuvens Teresina 34.84 algumas nuvens Aracaju 25.97 algumas nuvens
Economia da biodiversidade pode gerar bilhões na COP30
17 de outubro de 2025 / 13:32
Foto: Divulgação

Um novo estudo da ICC Brasil estima que o Brasil pode gerar entre US$ 100 bilhões e US$ 140 bilhões por ano até 2032 com o avanço da chamada bioeconomia do conhecimento — segmento que une biodiversidade, ciência e inovação para desenvolver produtos e soluções sustentáveis em áreas como alimentos, saúde, cosméticos, materiais e agronegócio.

O levantamento, conduzido ao longo de quatro meses com mais de 100 participantes e 57 entrevistas, apresenta o Brasil como um dos países mais bem posicionados do mundo para assumir protagonismo no setor. Os dados foram divulgados durante evento da São Paulo Climate Week.

A combinação de alta biodiversidade, base científica consolidada, grandes cadeias produtivas e matriz energética limpa cria um ambiente favorável ao desenvolvimento de bioinovações com valor agregado, desde insumos agrícolas até bioativos cosméticos e medicamentos.

No setor de alimentos, por exemplo, o país reúne uma indústria exportadora robusta e uma diversidade de espécies endêmicas com valor nutricional e funcional. O potencial de receitas nesse segmento varia de US$ 40 bilhões a US$ 50 bilhões por ano. Já o setor de materiais biodegradáveis e circulares pode movimentar de US$ 20 bilhões a US$ 30 bilhões, enquanto o agronegócio baseado em soluções regenerativas, US$ 18 bilhões a US$ 25 bilhões. O estudo aponta ainda US$ 12 bilhões a US$ 20 bilhões em potencial no setor de saúde e US$ 8 bilhões a US$ 12 bilhões com cosméticos sustentáveis.

Apesar do potencial, o estudo alerta que menos de 10% da flora brasileira foi mapeada geneticamente e menos de 1% dos microrganismos têm seu potencial biossintético conhecido. Além disso, o Brasil aparece apenas na 86ª posição em eficiência de inovação, apesar de estar entre os 15 países que mais produzem ciência no mundo. Para destravar o setor, o estudo estima que US$ 15,7 bilhões em investimentos públicos e privados serão necessários na próxima década.

A desigualdade regional e setorial também é destacada. Entre 2021 e 2023, 74% dos investimentos em bioeconomia no país foram direcionados a bioenergia e florestas plantadas. No mesmo período, a Amazônia Legal — região com maior potencial biológico — recebeu apenas 12% do crédito rural destinado a produtos da biodiversidade, enquanto o Sul concentrou 30% dos recursos.

Outro entrave está na regulamentação e na infraestrutura. O sistema SisGen, que registra o uso de patrimônio genético e conhecimento tradicional, apresenta lacunas: 48% dos cadastros não indicam resultados, 37% não informam a finalidade do acesso e 25% não registram o bioma de origem.

Para superar o que chama de “vales da morte” da inovação — obstáculos entre pesquisa, escalonamento e inserção de mercado —, o estudo propõe cinco frentes estratégicas: fortalecer a base científica, consolidar o ecossistema de inovação, criar condições de mercado favoráveis, aprimorar a regulação e implementar uma arquitetura financeira integrada, com subvenções, crédito, compras públicas e incentivos fiscais.

Além dos atores tradicionais, como governo, academia e empresas, a proposta inclui a ampliação da chamada “hélice da inovação” para incluir sociedade civil, investidores e a própria natureza, reconhecida como agente ativo da bioeconomia.

Brasil lidera biodiversidade mundial

O país abriga a maior biodiversidade do planeta, com cerca de 57% das espécies endêmicas. Possui 24% dos peixes de água doce do mundo, 17% das aves, 13% dos anfíbios, 12% das plantas e 11% das formigas. Ainda assim, apenas 30% dos registros da fauna e flora possuem informações completas.

O Brasil é líder global na produção de soja, café, cana-de-açúcar, laranja, açaí e guaraná, além de estar entre os maiores produtores de milho, algodão, celulose e cacau. Esses setores podem ser plataforma para o desenvolvimento de produtos de alto valor baseado na biodiversidade.

Saberes tradicionais são estratégicos

O estudo também destaca a importância de povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais, que acumulam conhecimentos empíricos sobre o uso sustentável da biodiversidade. Segundo os autores, a valorização desses saberes é essencial para garantir inovação enraizada na diversidade biocultural do país.