
Em um cenário marcado pelo preconceito e pela escassez de oportunidades no mercado de trabalho formal, indivíduos da comunidade LGBTQIA+ em Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha estão se voltando para o empreendedorismo como uma forma de conquistar autonomia, resistência e geração de renda. Na região do Cariri, no Ceará, esses empreendedores estão criando seus próprios negócios em resposta à falta de oportunidades.
Dados de uma pesquisa do Datafolha revelam que, embora 15,5 milhões de brasileiros se identifiquem como parte da comunidade LGBTQIA+, representando cerca de 7% da população, apenas 4,5% desses indivíduos ocupam vagas de trabalho. A pesquisa, que abrangeu quase 300 empresas e 1,5 milhão de trabalhadores, destaca que, além dos desafios enfrentados por qualquer candidato, as pessoas LGBTQIA+ também lidam com o preconceito.
Para muitos, o empreendedorismo surge como uma alternativa viável para superar as barreiras do mercado de trabalho. Em Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha, os empreendedores geralmente têm entre 20 e 40 anos, possuem ensino médio incompleto e relatam que iniciaram seus negócios devido à falta de oportunidades.
Uma pesquisa do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Ceará (Sebrae) indica que mais da metade da comunidade LGBTQIA+ no Brasil está envolvida com o empreendedorismo, com cerca de 55% das pessoas se identificando como empreendedores ou com potencial para empreender.
Desafios e superações
Ayza Teles, uma empreendedora da região, expressa a luta e a resistência enfrentadas por aqueles que buscam independência. “Enfrentamos barreiras, é muita luta e muita resistência. Mas, por querer ser independente e não gostar de depender de ninguém, a minha força para empreender só cresce”, afirma Ayza, que faz parte dos 3,7 milhões de pessoas LGBTQIA+ que lideram seus próprios negócios no Brasil.
Elania Calixto, de 26 anos, também compartilha sua experiência. Após deixar um emprego formal, ela se aventurou no ramo da moda, criando estampas próprias e se tornando microempreendedora individual (MEI). “Empreender foi a melhor coisa que fiz na minha vida. Eu acho que o LGBT empreende porque tem a alma livre”, destaca Elania.
Saymo Luna, de 31 anos, viu na pandemia uma oportunidade de criar um espaço colaborativo para divulgar produtos criativos. Seu projeto não apenas promoveu a arte local, mas também se tornou um ponto de cultura reconhecido pela Rede Estadual Cultura Viva do Ceará.
Apoio e políticas públicas
O Sebrae Ceará está ativamente envolvido no apoio a empreendedores LGBTQIA+, participando do Comitê de Empregabilidade e Empreendedorismo LGBTI+ do estado. O comitê busca mapear as necessidades desse grupo e desenvolver estratégias para promover a inclusão e o fortalecimento de seus negócios.
O pesquisador Júnior Linhares enfatiza a necessidade de políticas públicas que apoiem o empreendedorismo entre a comunidade LGBTQIA+. “Para que esse empreendedorismo possa ser consistente, é necessário que haja políticas afirmativas e de incentivo”, afirma.
Iniciativas municipais, como a lei em Juazeiro do Norte que garante cotas para pessoas trans e travestis em seleções temporárias, e programas de capacitação em Crato, estão sendo implementadas para melhorar a inclusão da comunidade LGBTQIA+ no mercado de trabalho.
Embora haja avanços, ainda existem desafios significativos a serem superados. A falta de apoio e a necessidade de mais espaços para a exposição do trabalho são questões levantadas pelos empreendedores da região. A busca por um olhar mais atento e respeitoso por parte das políticas públicas é essencial para garantir que essa comunidade marginalizada possa prosperar e se afirmar no mercado de trabalho.