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Empreendedorismo feminino no Maranhão: a força do artesanato indígena na ancestralidade e sustentabilidade
6 de junho de 2025 / 14:37
Foto: Divulgação

Mulheres Guajajara estão utilizando seus saberes tradicionais para gerar renda, fortalecer a cultura de seu povo e conquistar espaço no mercado, sempre respeitando o meio ambiente. As peças artesanais criadas pelas mulheres da Terra Indígena Araribóia no Maranhão têm ganhado destaque, especialmente após a aprovação de uma lei em 2022 que reconhece o artesanato indígena maranhense como patrimônio cultural de relevante interesse para o estado.

De acordo com dados do Sebrae, 44,1% dos consumidores de artesanato são moradores do próprio município, enquanto 21,3% são turistas de outros estados e 13,4% são estrangeiros. A legislação vigente proíbe a comercialização de itens que contenham partes de animais, priorizando produtos sustentáveis, como sementes, tecidos e cerâmicas.

No coração da Terra Indígena Arariboia, as mulheres Guajajara, como Marina Guajajara da aldeia Ypaw Myz’ym, têm transformado elementos da floresta em peças que refletem séculos de sabedoria ancestral. Desde a adolescência, Marina aprendeu a tecer redes e colares, tornando-se uma fonte de sustento para sua família e comunidade. Ela relembra como o artesanato entrou em sua vida:

“Quando eu era criança, minha mãe costumava fazer rede e bolsas. Aos 13 anos, ela começou a receber encomendas de colares feitos de semente, e eu e minha irmã passamos a produzir peças com ela. O dinheiro que ela recebia era usado para nos pagar pela mão de obra.”

Esse aprendizado prático não apenas preservou a herança cultural, mas também abriu portas para a geração de renda.

Bioeconomia Indígena

A bioeconomia indígena é uma abordagem econômica que se baseia nos conhecimentos e práticas tradicionais dos povos originários, especialmente aqueles que habitam regiões florestais. Antes mesmo da definição moderna do termo, os povos indígenas já praticavam uma economia sustentável, utilizando os recursos da floresta de forma equilibrada.

Entre as matérias-primas que as artesãs Guajajara utilizam, a semente de tiririca se destaca por seu valor cultural e econômico. Marina explica o processo de transformação dessa semente:

“Eu gosto muito de produzir peças que tenham a semente de tiririca. A gente coleta essa semente na nossa comunidade, que fica à margem do rio, e essas peças são as que mais têm saída. É um tipo de capim que cortamos, e temos todo um processo de colheita e cozimento para amolecê-la. É um processo bem demorado.”

A planta tiririca (Cyperus rotundus) é conhecida por seu crescimento rápido e resistência, sendo uma das mais agressivas do mundo. Sua versatilidade permite seu uso em diversas áreas, incluindo o controle de erosão e, como no caso das mulheres Guajajara, no artesanato.

Marina relata como a técnica tradicional ganhou novos significados e mercados: “Fazemos colares, pulseiras e bolsas. É um elemento que representa e dá mais característica ao nosso povo. Começou a se destacar em Goiânia, onde eu e minha mãe levávamos artesanato para nos manter durante a graduação na área de linguagem.”

A pandemia foi um momento decisivo para Marina, que começou a produzir mais peças durante o isolamento. “Eu voltei a fazer as peças como terapia para ocupar a mente. Depois comecei a postar, e as pessoas começaram a fazer pedidos.”

O Poder do Coletivo

A experiência individual de Marina evoluiu para uma iniciativa coletiva que beneficia diversas mulheres da comunidade. Ela explica como essa articulação surgiu:

“Reunimos as mulheres da Aldeia Lagoa Quieta para trabalhar em conjunto. Já faz um ano e meio. Concorrendo a um projeto do Fundo Casa, percebemos que precisávamos melhorar nosso trabalho, especialmente na divulgação.”

O coletivo é organizado e respeita as habilidades de cada integrante: “Cada uma foca em sua habilidade, enquanto outras tentam aprender. Estamos trazendo mulheres que não têm outra fonte de renda, além do Bolsa Família.”

Da Aldeia para as Celebridades

A visibilidade nacional aumentou quando peças criadas por Marina foram usadas por celebridades como Anitta e Érika Januza. Anitta, ao usar um look feito por Marina em homenagem à religiosidade afro-brasileira, destacou a importância do figurino: “Esse look em homenagem à Jurema me enche de orgulho, porque a história dela fala muito sobre força. Sempre sonhei em homenageá-la de alguma forma.”

Marina reflete sobre o impacto dessa visibilidade: “Quando recebi a proposta, não foi uma encomenda coletiva, mas pessoal. Isso trouxe muita visibilidade para nosso trabalho, e as pessoas começaram a elogiar e fazer pedidos.”

Identidade, Futuro e Reconhecimento

Olhando para o futuro, Marina reconhece os desafios, mas também as oportunidades: “Estamos pensando em melhorar e deixar nossas peças com características do nosso povo, mais do povo Guajajara.” Ela finaliza com uma reflexão sobre o significado de seu trabalho: “Uma das coisas legais é quando alguém compra uma peça que identifica como sendo do povo Guajajara e valoriza nosso trabalho como artesã.”