
O Ginásio Pernambucano, localizado na Rua da Aurora, no Centro do Recife, é reconhecido como a escola mais antiga do Brasil completa 200 anos, tendo sido fundado em 1825, logo após a Confederação do Equador. Em 2025, a instituição celebrará seu bicentenário, refletindo sobre sua longa trajetória na educação brasileira.
Este edifício histórico, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) desde 1984, é testemunha de conversas de alunos que se tornaram figuras proeminentes na história do Brasil, como a escritora Clarice Lispector, o dramaturgo Ariano Suassuna e o ex-presidente Epitácio Pessoa.
O Ginásio Pernambucano preserva sua rica história através de sua arquitetura, um acervo literário com milhares de obras raras, um museu de história natural e objetos de mobiliário de época, que ainda são utilizados pelos alunos. A instituição, que começou como Liceu Provincial de Pernambuco, teve sua sede definitiva estabelecida em 1859, em um período em que o Brasil buscava novas formas de educar a elite do novo império.
Educação Escolarizada: Uma Novidade em 1825
A proposta de educação escolarizada fora do ambiente doméstico era inovadora na época e gerou estranhamento entre os pais, que estavam acostumados a contratar professores para ensinar em casa. A coordenadora do Museu de História Natural Jaques Brunet, Francisca Juscizete, explica que a interação entre os alunos era uma preocupação para os pais da época.
Apesar de ser uma escola pública, o Ginásio Pernambucano sempre teve um custo elevado, com a cobrança de taxas para matrícula, prática comum nos primeiros anos de sua história. Mesmo assim, bolsas de estudo eram oferecidas, mantendo o caráter público da instituição. Essa realidade persistiu ao longo das décadas, como lembra Francisca, que na década de 1970 ainda pagava taxas para estudar, além de arcar com o custo de livros e uniformes, que eram caros e considerados elitizados.
A exclusividade masculina foi outra característica marcante do colégio, que funcionou apenas para meninos por um longo período, até que as mudanças sociais permitiram o acesso das mulheres à educação. Histórias do cotidiano estudantil também revelam um pouco desse passado, como a lembrança de um ex-aluno que descreveu como os estudantes deixavam bilhetes para seus colegas que chegavam no turno seguinte, uma prática que ele comparou ao WhatsApp da época.
Alunos Ilustres e Contribuições à História do Brasil
O Ginásio Pernambucano formou ao longo de seus 200 anos diversas personalidades que contribuíram para a política e cultura do Brasil. Entre os ex-alunos, destacam-se:
- Clarice Lispector: A renomada escritora, que viveu no Recife entre 1925 e 1937, começou sua trajetória literária durante seus anos de estudo na escola.
- Ariano Suassuna: Autor de “O Auto da Compadecida”, Suassuna também lecionou no Ginásio como professor convidado, onde escreveu sua obra mais famosa.
- Assis Chateaubriand: Jornalista e político, fundador dos Diários Associados e da TV Tupi, passou pela instituição antes de se tornar uma figura proeminente na comunicação brasileira.
- Epitácio Pessoa: O ex-presidente da República, que governou entre 1919 e 1922, também estudou no Ginásio Pernambucano.
- Agamenon Magalhães: Governador de Pernambuco entre 1937 e 1945, ele também foi diretor do colégio.
Além de Agamenon, outros cinco governadores do estado também foram alunos do Ginásio Pernambucano, incluindo Sérgio Loreto, Etelvino Lins, Paulo Guerra, Eraldo Gueiros e Cid Sampaio.
Conexão com a História do Brasil
O Ginásio Pernambucano mantém uma forte ligação com a história do país, abrigando documentos, objetos de época e peças arqueológicas que ajudam a preservar a memória da educação brasileira. Um dos tesouros do colégio é o pendão entregue por Dom Pedro II durante sua visita em 1859, um símbolo valioso da instituição.
O colégio também é conhecido por sua Biblioteca Professor Olívio Montenegro, que possui um acervo extenso, com obras desde o século XVI até os dias atuais, servindo não apenas aos alunos, mas também a pesquisadores e estudiosos.
Museu de História Natural e Acervo Científico
O Ginásio Pernambucano abriga um dos museus escolares mais antigos do Brasil, o Museu de História Natural Jaques Brunet, que tem suas raízes no projeto original do edifício. O museu foi inaugurado em 1857 e, desde então, tem sido um espaço de aprendizado e pesquisa, com um acervo que inclui espécimes impressionantes, como jacarés e pirarucus, coletados em expedições científicas.
O Museu Jaques Brunet é um complemento vital para a educação na escola, mantendo viva a memória científica do estado e oferecendo uma visão do passado educacional e cultural do Brasil.