
Um estudo realizado pelo Projeto Golfinho Rotador em Fernando de Noronha revelou que os golfinhos-roteadores adultos desempenham um papel crucial na proteção do grupo, assumindo a liderança em situações de risco, como a aproximação de tubarões e embarcações. Os pesquisadores observaram que os machos adultos realizam saltos que servem como um comportamento de vigilância, conhecido como “comportamento de guarda”, que visa proteger os membros mais vulneráveis, como fêmeas e filhotes.
A pesquisa, que se estende por 35 anos, destaca a complexidade da estrutura social desses animais e alerta para os impactos da presença humana no ecossistema marinho. O oceanógrafo José Martins, coordenador do projeto, explicou que os machos adultos frequentemente lideram a defesa do grupo, nadando em direção a ameaças e cercando mergulhadores.
Estratégia de Vigilância
Martins afirmou que, ao longo do tempo, comportamentos inicialmente dispersos formaram um padrão coerente, revelando uma organização social que combina vigilância, defesa e comunicação. O “comportamento de guarda” é temporário e não hierárquico, com a liderança rotativa entre os golfinhos, dependendo de fatores como condição física e experiência. As fêmeas raramente assumem esse papel, e a proteção dos mais fracos ocorre sem a necessidade de vínculos parentais, o que é fundamental para a sobrevivência do grupo.
O estudo utilizou diversas metodologias para observar os golfinhos, incluindo:
- Observações fixas com binóculos a partir de um mirante;
- Mergulhos livres com os golfinhos;
- Embarques em botes com casco transparente;
- Coleta de material genético por raspagem.
Os dados coletados indicaram que, de 100 amostras genéticas de golfinhos observados nadando à frente dos botes, 73 eram machos. Em mais de 86% das observações, os golfinhos que acompanhavam as embarcações eram machos adultos. Além disso, em 88% dos mergulhos realizados, os primeiros indivíduos avistados eram também machos adultos.
Impacto do Turismo
Com o aumento do número de embarcações e mergulhadores na região, a eficácia do “comportamento de guarda” tem sido comprometida. Martins alertou que a perseguição constante aos golfinhos resulta em maior estresse, redução da taxa de reprodução e um aumento no risco de predação. Embora não haja registros diretos de ataques de tubarões durante a interferência humana, o aumento da população de tubarões-tigre e a ampliação do turismo sem regulação são preocupações crescentes.
Os dados do Projeto Golfinho Rotador têm sido fundamentais na formulação de políticas públicas de preservação em Noronha, incluindo a criação de áreas de exclusão e a proibição de mergulhos intencionais com golfinhos. Martins destacou a importância de limitar o tráfego de embarcações para proteger a vida marinha na região.
Monitoramento e Conservação
Desde 1990, o Projeto Golfinho Rotador tem monitorado mais de 2 milhões de visitas de golfinhos à ilha, enfatizando a necessidade de um turismo sustentável que respeite o ecossistema local. O objetivo é garantir que Fernando de Noronha continue sendo um santuário para a vida marinha e que os golfinhos possam prosperar em seu habitat natural.