João Pessoa 30.13 nuvens dispersas Recife 29.02 nuvens dispersas Natal 30.12 nuvens dispersas Maceió 27.69 chuva leve Salvador 27.98 nublado Fortaleza 29.07 nuvens dispersas São Luís 31.11 nublado Teresina 31.84 algumas nuvens Aracaju 27.97 nublado
Fapeal lança projeto inovador que une ciência e saúde no combate às arboviroses
27 de maio de 2025 / 14:48
Foto: Divulgação

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) tem desempenhado um papel crucial na pesquisa científica local, especialmente no combate a doenças endêmicas e na formação de novos pesquisadores. Um exemplo notável dessa atuação é o projeto intitulado “Epidemiologia molecular do vírus chikungunya em regiões endêmicas do estado de Alagoas”, que foi concluído em fevereiro de 2025.

Desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal (PPGCA) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), o estudo foi coordenado pelo professor Abelardo Silva e contou com a colaboração de duas bolsistas, Thais Fraga e Mykaella Araújo.

Financiado pelo Programa de Apoio à Fixação de Jovens Doutores no Brasil, uma iniciativa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em parceria com a Fapeal, o projeto analisou a estrutura genética de amostras do vírus chikungunya coletadas em Alagoas entre 2016 e 2024. A pesquisa envolveu o sequenciamento de 60 genomas completos do vírus, a partir de amostras humanas e de vetores (mosquitos), permitindo a identificação de mutações que indicam maior capacidade de transmissão e severidade da infecção nos surtos recentes.

Contribuições para a saúde pública

O estudo revelou alterações genéticas significativas nas linhagens do vírus chikungunya, que foram identificadas em diferentes ondas epidêmicas no estado. Essas mutações ajudam a explicar os relatos frequentes de sintomas persistentes entre os pacientes alagoanos, sugerindo que a doença tem se manifestado de forma mais crônica na região.

“Um dos desdobramentos do nosso trabalho, a dissertação de Leonardo Lima, também identificou mosquitos infectados em áreas turísticas de Maceió, como Ponta Verde e Jatiúca. Essa informação é fundamental para orientar o controle vetorial pelas autoridades municipais”, destacou Thais Fraga.

Além disso, o estudo levou à criação de novas metodologias para a identificação de linhagens virais sem a necessidade do sequenciamento genômico completo. Desenvolvidas por estudantes de iniciação científica e pós-graduação, essas ferramentas visam diagnósticos mais rápidos e acessíveis, essenciais para a realidade de muitos laboratórios no estado.

O grupo também colaborou com o Instituto Aggeu Malhães (IAM), vinculado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e o Laboratório Central de Saúde Pública de Alagoas (LACEN/AL), o que possibilitou o uso das amostras sequenciadas para o desenvolvimento de testes diagnósticos mais modernos, como o método LAMP, atualmente em fase de padronização nacional.

Jovens doutoras e os impactos gerados

A trajetória das jovens doutoras foi fundamental para os resultados obtidos. Thais Fraga, que obteve seu título na Universidade Estadual Paulista (Unesp), atuou como bolsista da Fapeal entre janeiro e setembro de 2023. Após ser aprovada em concursos públicos, ela cedeu a bolsa, mas continuou contribuindo ativamente com o projeto, garantindo a orientação de novos estudantes e a continuidade das ações planejadas.

A partir de outubro de 2023, Mykaella Araújo assumiu a bolsa e conduziu os trabalhos até outubro de 2024, introduzindo metodologias inovadoras de sequenciamento e ampliando parcerias institucionais. “O apoio da Fapeal possibilitou uma infraestrutura inédita para nosso grupo de pesquisa. Adquirimos tecnologia de alta performance e consolidamos parcerias estratégicas, impactando positivamente a vigilância em saúde pública em Alagoas”, afirmou a pesquisadora.

O projeto também resultou na formação de novos talentos. O mestrando Leonardo Lima, orientado por Thais Fraga e coorientado por Abelardo Silva, foi premiado como autor do melhor trabalho na área de Virologia de Invertebrados durante o 35º Congresso Brasileiro de Virologia, realizado em Foz do Iguaçu, em outubro de 2024.

Perspectivas futuras

Os impactos do projeto vão além dos resultados científicos. O fortalecimento da infraestrutura laboratorial, a formação de novos talentos e a conexão com as demandas do LACEN/AL consolidaram um modelo de pesquisa aplicada com retorno concreto para a sociedade.

“Com os editais da Fapeal, conseguimos estruturar um laboratório mais robusto, com equipamentos como o ultrafreezer, essencial para armazenar amostras com segurança. Isso impacta toda a rede de pesquisas da Ufal e possibilita novos projetos”, explicou o coordenador do trabalho.

Abelardo Silva também anunciou que o grupo está desenvolvendo novas propostas para dar continuidade às investigações sobre arboviroses em circulação no estado. “A ideia é atender diretamente às demandas do sistema de saúde. A parceria com o LACEN/AL foi fortalecida por esse projeto, permitindo uma resposta rápida a novos surtos virais”, afirmou.

Thais Fraga e Mykaella Araújo continuam atuando na docência e na pesquisa em instituições públicas, contribuindo para a formação de novos cientistas e ampliando a presença feminina na ciência alagoana. O projeto, que começou com o sequenciamento de genomas, agora reverbera em salas de aula, laboratórios equipados, colaborações consolidadas e avanços na saúde pública do estado.