
O Governo do Ceará declarou, nesta quinta-feira (4), estado de emergência em resposta ao aumento de tarifas imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O estado é um dos mais afetados por essas medidas, o que gera preocupação em diversos setores econômicos.
Com o novo decreto, o governo estadual poderá acessar recursos do orçamento destinados a situações emergenciais, conforme publicado no Diário Oficial do Estado. No dia 7 de agosto, já havia sido sancionada uma lei que autorizava a implementação de várias ações para apoiar as empresas, incluindo:
- Auxílio financeiro para empresas que exportam para os Estados Unidos;
- Compra de produtos dessas empresas para atender às necessidades do Governo;
- Antecipação de pagamentos de créditos;
- Aumento de incentivos fiscais;
- Criação do Comitê Estratégico para monitorar a aplicação das medidas.
A lei aprovada em agosto indicava que os recursos para essas iniciativas seriam provenientes de créditos extraordinários, ou seja, não previstos no orçamento original. O novo decreto altera um artigo da lei anterior, especificando a fonte dos recursos que financiarão as medidas. Segundo a Secretaria da Casa Civil, o decreto permite ao Governo do Ceará utilizar uma rubrica do orçamento destinada a reservas de contingência, voltada para situações emergenciais. O objetivo é garantir a execução das ações de apoio às empresas afetadas pelas tarifas, assegurando a manutenção dos empregos no estado.
Como parte das ações já em curso, o governo lançou um edital pela Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) para a aquisição de produtos agrícolas de empresas cearenses impactadas pelas tarifas, com inscrições encerrando na sexta-feira (5).
As tarifas aplicadas têm um impacto direto nos preços dos produtos. Por exemplo, um item que antes custava US$ 100, agora pode ser vendido por pelo menos US$ 150, tornando-se menos competitivo. Isso pode levar os importadores americanos a deixar de comprar produtos do Ceará, afetando as indústrias locais que dependem desse mercado.
A economia do Ceará está fortemente interligada à dos Estados Unidos, principalmente devido à exportação de aço, ferro e produtos similares. O economista João Mário de França, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), explica que cerca de 76,5% das exportações cearenses para os EUA são de produtos semi-acabados e lingotes de ferro ou aço.
No primeiro semestre de 2025, o Ceará exportou mais de US$ 1,1 bilhão, dos quais US$ 528 milhões foram provenientes do setor siderúrgico, representando cerca de 49% do total exportado. O cenário em 2024 foi semelhante, com os principais produtos cearenses exportados para os EUA incluindo:
- Ferro fundido, ferro e aço (US$ 441,3 milhões);
- Peixes, crustáceos, moluscos e outros invertebrados aquáticos (US$ 52,8 milhões);
- Preparações de produtos hortícolas, de frutas ou de outras partes de plantas (US$ 37,2 milhões);
- Calçados, polainas e artefatos semelhantes (US$ 36,9 milhões);
- Gorduras e óleos de origem animal ou vegetal (US$ 16,7 milhões).
Embora o Ceará seja o estado brasileiro mais dependente dos EUA para suas exportações, com 44,9% de seus produtos destinados a esse mercado em 2024, ele ocupa apenas a décima segunda posição no ranking geral de exportadores para os Estados Unidos. Em contraste, São Paulo lidera com exportações de US$ 13,6 bilhões, representando 19% de seus produtos.
Diante das dificuldades geradas pelas tarifas, a diversificação dos mercados compradores é uma alternativa apontada, mas que exige tempo e esforços significativos. Embora a indústria e o governo considerem essa estratégia positiva, o processo de abrir novos mercados pode levar meses ou até anos, enquanto os efeitos das tarifas já são sentidos em semanas. Portanto, a prioridade atual é buscar negociações com o governo americano para a redução das tarifas.