
Já imaginou saborear um hambúrguer feito com coco babaçu? Este produto inovador, comercializado por quebradeiras de coco na região amazônica do Maranhão, utiliza uma parte do babaçu que antes era destinada apenas à ração animal.
A base do hambúrguer é a farinha da amêndoa do babaçu, que também pode ser utilizada na preparação de biscoitos, pães, bolos, mingaus e sorvetes. O coco babaçu, proveniente da palmeira homônima, é um fruto nativo da Amazônia, conhecido por seu óleo, que tem aplicações tanto na culinária quanto na cosmética.
Antes da pesquisa realizada por mulheres de comunidades tradicionais em colaboração com cientistas, o bagaço da amêndoa era considerado um resíduo da extração do óleo. O professor Harvey Villa, que participou do estudo, afirmou: “Sabíamos que [a amêndoa] ainda tinha bastante conteúdo de lipídios e carboidratos, podendo ser utilizada como um tipo de farinha por meio de bom tratamento e processamento. A ideia era reaproveitar 100% do produto e obtivemos êxito”.
Além de promover a sustentabilidade, o uso do babaçu visa gerar renda para as comunidades tradicionais, conforme destacou a pesquisadora Guilhermina Cayres, líder do projeto. Rosângela Lica, da Cooperativa Mista da Agricultura Familiar e do Extrativismo do Babaçu (Coomavi), acrescentou: “Aprendemos a assar e torrar o bagaço no forno para atingir o ponto certo e transformá-lo em farinha da amêndoa, um produto que substitui o coco ralado em todas as formulações, dá muito mais crocância e tem melhor aceitação pelos consumidores”.
O hambúrguer de babaçu é especialmente voltado para consumidores com restrições alimentares, como aqueles que evitam glúten ou lactose.
A pesquisa contou com a colaboração de um amplo grupo, incluindo mulheres da Coomavi, da Associação Clube de Mães Quilombolas Lar de Maria e da Associação de Quebradeiras de Coco de Chapadinha do Assentamento Canto do Ferreira. Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e da Universidade Federal do Ceará (UFC) também participaram, com apoio da Rede ILPF e financiamento da Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ) no Brasil.
O que vai na receita
Para que o hambúrguer se assemelhe à carne, os cientistas incorporaram a casca da banana à amêndoa, conferindo estrutura, sabor e maciez durante o preparo. A farinha de arroz também é utilizada, pois proporciona liga aos temperos e melhora a durabilidade do produto, que pode ser armazenado por até seis meses no congelador. O hambúrguer possui uma qualidade nutricional destacada, com 13,17% de proteína.
O produto foi inicialmente testado por alunos do curso de gastronomia do Instituto Estadual do Maranhão (Iema), e somente após a aprovação deles, começou a ser comercializado nas feiras locais.