
A Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) programou um leilão para o dia 17 de junho, visando a exploração de petróleo e gás na Bacia Potiguar, localizada a 398 km de Fernando de Noronha. Contudo, a proposta tem gerado preocupações entre ambientalistas e moradores da região, que se mobilizam contra a iniciativa.
Na noite de quinta-feira (29), uma reunião foi realizada no Centro de Visitantes do Instituto Chico Mendes da Biodiversidade (ICMBio) para discutir os potenciais riscos associados à exploração de petróleo nas proximidades da ilha. Especialistas alertaram que, em caso de um vazamento, as correntes marítimas poderiam rapidamente transportar o óleo até Noronha, afetando gravemente o ecossistema local.
Lilian Hangae, chefe do ICMBio em Noronha, destacou que, apesar de a bacia em questão estar em frente a Natal (RN), um derramamento de óleo poderia impactar a cadeia montanhosa que conecta a ilha. Ela enfatizou que o ICMBio já emitiu um parecer negativo em relação ao leilão devido aos riscos envolvidos, evidenciando a divergência de interesses entre a ANP e o órgão ambiental.
O Instituto Arayara também se posicionou contra o leilão, realizando um estudo sobre os riscos e movendo uma ação judicial para barrar a proposta. O biólogo marinho Vinicius Nora, gerente de operações do instituto, ressaltou que os blocos destinados ao leilão estão situados em uma área rica em corais e ecossistemas interligados, e um vazamento de petróleo poderia resultar em um desastre ambiental irreversível, afetando a economia local, que depende do turismo.
Esta não é a primeira tentativa da ANP de leiloar a área. Em edições anteriores, não houve propostas para os lotes próximos à ilha, o que levanta questões sobre a viabilidade do leilão.
A campanha Salve Noronha foi iniciada para mobilizar a sociedade em torno da causa e impedir o leilão. Na manhã de sexta-feira (30), um grupo de ativistas se reuniu na praia Cacimba do Padre, utilizando faixas para sensibilizar os visitantes sobre os riscos da exploração.
A bióloga Zaira Matheus, residente na ilha há mais de 20 anos, expressou sua preocupação e a necessidade de engajamento da comunidade: “É possível salvar Fernando de Noronha se todos entenderem os prejuízos que a exploração de petróleo traria para a região. Precisamos que as pessoas se unam à campanha para que não haja ofertas para os blocos próximos à Noronha e ao Atol das Rocas.”
O empresário Petros Carvalho, também morador da ilha, reforçou a urgência do movimento contra o leilão: “Queremos afastar Noronha desse risco brutal. É absurdo permitir que a ilha seja invadida pelo óleo. Estamos aqui para resistir.”
A administradora de empresas Cíntia Tomé, que está em Noronha a turismo, decidiu se juntar à campanha após tomar conhecimento da situação: “Precisamos proteger esse paraíso, queremos que Noronha permaneça preservada para as futuras gerações.”
Por outro lado, a ANP se defendeu em nota, afirmando que a informação sobre os riscos para Fernando de Noronha é “falsa”. A agência reiterou que no dia 17 de junho ocorrerá a sessão pública do 5º Ciclo da Oferta Permanente de Concessão, com blocos na Bacia Potiguar, mas que nenhum deles está localizado próximo à ilha. A ANP destacou que a distância do bloco mais próximo é de 398 km e que todas as licitações seguem as diretrizes do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), incluindo a obtenção de licenças ambientais necessárias para a execução das atividades.