
A produção indústria brasileira mantém ritmo fraco, praticamente estável no mês de outubro, registrando um leve avanço de 0,1% em relação a setembro, segundo dados divulgados pelo IBGE. Embora o resultado seja positivo, ele indica uma trajetória de baixo dinamismo, reforçando a percepção de que o setor ainda enfrenta dificuldades para consolidar uma retomada mais robusta. Na comparação com outubro de 2024, o desempenho foi negativo, com queda de 0,5%, o que evidencia a perda de fôlego ao longo dos últimos meses.
Essa tendência de desaceleração vem se desenhando desde o ano passado, em meio a um contexto marcado pelo ciclo prolongado de juros elevados e condições financeiras mais apertadas. As empresas continuam encontrando obstáculos para investir, expandir linhas de produção e renovar equipamentos, ao mesmo tempo em que lidam com custos elevados e demanda interna oscilante. A combinação desses fatores tem limitado o avanço mais consistente da indústria, mesmo diante de alguns sinais pontuais de melhora.
Dos 25 setores analisados pelo IBGE, 12 registraram crescimento em outubro. Entre os destaques positivos, a indústria brasileira mantém ritmo fraco extrativas, apresentando uma expansão de 3,6%, interrompendo dois meses consecutivos de retração. Esse resultado é relevante porque o segmento extrativo influencia diretamente o desempenho de diversos outros setores, em especial aqueles ligados à cadeia de metais e energia. O setor automotivo também teve desempenho favorável, com alta de 2%, impulsionado pela reposição de estoques e por campanhas de vendas realizadas ao longo do mês. Já o setor de alimentos cresceu 0,9%, beneficiado pelo aumento na produção de itens processados e pela demanda mais firme no mercado interno.
Por outro lado, a indústria manufatureira recuou 0,6%, refletindo um ambiente ainda fragilizado para fábricas de médio e grande porte, que dependem de investimentos mais intensivos e de condições de crédito mais acessíveis. A categoria de Bens Intermediários — que possui o maior peso no índice industrial por ser responsável por insumos utilizados em diversos segmentos — caiu 0,8%. Esse recuo foi fortemente influenciado pela menor produção de derivados do petróleo, setor diretamente impactado por ajustes operacionais e pela demanda internacional mais fraca.
Ao analisar as grandes categorias econômicas, observou-se um comportamento heterogêneo. Bens de Capital avançaram 1,0%, sugerindo uma leve reação nos investimentos produtivos, embora ainda distante de uma reversão estrutural. Bens de Consumo Duráveis tiveram alta de 2,7%, favorecidos por condições de crédito específicas e por programas de incentivo a determinados setores. Já os Bens de Consumo Semi e Não Duráveis cresceram 1,0%, refletindo uma demanda interna relativamente estável para produtos de uso cotidiano. A única queda significativa se concentrou mais uma vez em Bens Intermediários, reforçando o caráter misto do desempenho industrial no período.
Para 2025, as projeções de economistas permanecem modestas. A estimativa de crescimento da indústria varia entre 0,5% e 1%, patamar bem inferior à expansão de 3,1% registrada em 2024, quando o setor conseguiu aproveitar condições mais favoráveis, como menor pressão inflacionária e recuperação de alguns segmentos específicos. Segundo analistas, o patamar ainda elevado dos juros continua sendo um dos principais entraves, porque encarece financiamentos, reduz a capacidade de investimento das empresas e impacta negativamente o consumo de bens duráveis. Além disso, a incerteza quanto ao cenário fiscal e à política monetária contribui para uma postura mais cautelosa do setor produtivo.
Olhando para 2026, a expectativa é de um avanço moderado, condicionado à evolução do ambiente macroeconômico, à trajetória esperada dos juros e ao ânimo do mercado consumidor. Como o setor industrial depende fortemente de previsibilidade e de condições de financiamento adequadas, a recuperação tende a ser gradual. A soma desses elementos revela que os desafios persistem e que o setor deve continuar operando em ritmo restrito no curto prazo.
Assim, o desempenho recente da indústria brasileira e as projeções para os próximos anos reforçam que a recuperação plena ainda está distante. A continuidade de políticas que estimulem investimentos, modernização produtiva e competitividade será fundamental para que o setor volte a desempenhar um papel mais dinâmico na economia nacional.