João Pessoa 28.13 nuvens dispersas Recife 27.02 nuvens dispersas Natal 25.12 névoa Maceió 27.69 nublado Salvador 26.98 nublado Fortaleza 28.07 céu limpo São Luís 30.11 algumas nuvens Teresina 35.84 nublado Aracaju 25.97 nuvens dispersas
Líder da Jurema Sagrada destaca preconceito por crenças após reconhecimento como patrimônio imaterial da Paraíba
19 de julho de 2025 / 22:42
Foto: Divulgação

A Jurema Sagrada foi oficialmente reconhecida como patrimônio imaterial da Paraíba em uma cerimônia realizada na quarta-feira (16), uma conquista celebrada por praticantes e estudiosos da religião. Eriberto de Carvalho Ribeiro, conhecido como Pai Beto de Xangô e presidente da Federação de Umbanda, Candomblé e Jurema (FCPumcanju) de João Pessoa, destacou a importância dessa conquista, lembrando dos ancestrais que enfrentaram a intolerância religiosa e enfatizando a necessidade de continuar a luta contra o preconceito.

“Nossos antepassados devem estar em profunda alegria, pois, mesmo no século XXI, as pessoas ainda são julgadas por suas crenças, cor, raça e orientação sexual. Viver momentos de reconhecimento da nossa religião como patrimônio imaterial é extremamente gratificante,” afirmou Pai Beto.

A iniciativa, proposta pela deputada estadual Cida Ramos (PT), visa valorizar uma das expressões religiosas mais tradicionais do Nordeste. A parlamentar explicou que o objetivo é promover o respeito e a preservação da Jurema Sagrada, que é especialmente significativa nas comunidades de Alhandra e Conde, na Grande João Pessoa.

Para desenvolver o projeto de lei, Cida Ramos se reuniu com representantes da Federação de Umbanda, Candomblé e Jurema em 21 de janeiro. Pai Beto, que participou da reunião, considerou a aprovação da lei como um marco histórico para os praticantes das religiões afro-indígenas no estado, especialmente para a Jurema, que frequentemente enfrenta incompreensão e discriminação.

A cidade de Alhandra é reconhecida como o berço da Jurema Sagrada no Nordeste.

História da Jurema Sagrada na Paraíba

O uso ritualístico da jurema na Paraíba remonta ao século XVIII, conforme relata o pesquisador Estevão Palitot. Na época, a região era habitada pelos indígenas Canindé e Xucurú, que enfrentaram repressão ao serem denunciados ao governador de Pernambuco, então capitania da Paraíba.

“Os padres carmelitas, responsáveis pelo aldeamento, ficaram alarmados com o culto da jurema, que reafirmava os vínculos espirituais dos indígenas com suas tradições ancestrais. Isso gerou uma forte reação, culminando em uma denúncia ao Bispo de Pernambuco,” explica Palitot.

Após a denúncia, tropas foram enviadas ao aldeamento, resultando em violência contra os indígenas, que temiam abandonar o local sob domínio colonial.

Apesar da repressão, a prática da Jurema continuou a ser mantida entre diversos grupos indígenas na Paraíba, como os Corema, Panati, Ariú e Pega. Com o tempo, o culto incorporou elementos de tradições afro-brasileiras e do sincretismo católico, sendo às vezes referido como “Catimbó”.

“A Jurema, ao ser registrada historicamente, já traz a marca dos povos indígenas e a luta contra o colonialismo, além do diálogo com os povos negros. Isso demonstra a resistência indígena e a reconstrução do catolicismo por meio dessa resistência,” comenta o antropólogo Estevão Palitot.

Ele ressalta a relevância do reconhecimento da Jurema Sagrada como patrimônio imaterial da Paraíba, após séculos de perseguições: “A Jurema passou por séculos de repressão, discriminação e ameaças, e hoje é reconhecida como um símbolo cultural e de identidade paraibana, além de representar a resistência dos povos afro-ameríndios na região.”