
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) inaugurou, nesta quinta-feira (14), a nova fábrica de hemoderivados da Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás), localizada em Goiana, Pernambuco. Este evento marca o fim de um longo processo de construção que durou 15 anos, com o término das obras inicialmente previsto para 2016. Durante seu discurso, Lula destacou a importância de trazer a Hemobrás para o Nordeste, mencionando a histórica falta de oportunidades na região desde a época colonial, quando a coroa portuguesa foi transferida para o Sudeste do Brasil.
“Nunca consegui entender por que todas as pesquisas mostravam que o Nordeste era um lugar que tinha mais analfabeto, mais criança desnutrida, mais mortalidade infantil, onde menos tinha mestre e doutor e universidade”, afirmou o presidente.
Lula também aproveitou a ocasião para criticar o governo Trump, ao comentar o cancelamento do visto dos EUA do secretário de Atenção Especializada à Saúde do Ministério da Saúde, Mozart Sales. “Mozart, não fique preocupado com o visto dos EUA. O mundo é muito grande”, disse ele.
Na cerimônia, foram inaugurados os blocos B02 e B03 da fábrica, que são responsáveis pelo fracionamento de plasma e pelo preparo e envase dos medicamentos. Apesar da conclusão das obras, a produção deve iniciar apenas no próximo ano, pois a tecnologia precisa passar por testes e certificações.
O investimento total na construção da Hemobrás foi de R$ 1,9 bilhão, com a meta de produzir medicamentos e substâncias de alto custo a partir do plasma humano coletado em 72 hemocentros públicos e serviços de hemoterapia em todo o Brasil. Esses medicamentos, que incluem albumina, imunoglobulina e Fatores de Coagulação VIII e IX, são fornecidos gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e são essenciais para o tratamento de diversas condições, como queimaduras graves, hemofilias e doenças raras.
Atualmente, esses produtos são importados, mas a nova fábrica permitirá que, a partir de 2026, o Brasil inicie o fracionamento do plasma, com a expectativa de que, em 2027, o país se torne autossuficiente na produção desses insumos. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, enfatizou que a inauguração da Hemobrás é um passo importante para garantir a soberania do Brasil em relação aos mercados internacionais, permitindo a produção de medicamentos pelo SUS sem custo para a população.
“Significa produção de medicamentos para o povo brasileiro, pelo SUS, sem as pessoas terem que pagar por esse medicamento”, destacou Padilha.
A presidente da Hemobrás, Ana Paula Menezes, também ressaltou a importância do projeto, afirmando que a fábrica não é apenas um local de produção de medicamentos, mas um símbolo de cidadania, uma vez que o plasma é doado voluntariamente pela população e retorna a ela na forma de medicamentos.
Histórico da Hemobrás
A Hemobrás, uma empresa estatal vinculada ao Ministério da Saúde, foi criada em 2005 com o objetivo de reduzir a dependência do Brasil em relação ao mercado externo para a produção de hemoderivados. O primeiro módulo da fábrica começou a operar em setembro de 2012, após dois anos de obras. O projeto completo prevê 19 blocos em uma área de 48 mil metros quadrados.
As obras foram interrompidas em 2016 devido a irregularidades encontradas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) no contrato com a construtora responsável. A investigação, que começou em 2015, resultou em um escândalo de corrupção, levando ao afastamento da diretoria da Hemobrás e à condenação de três réus por fraudes na construção.
Agenda do presidente em Pernambuco
Além da inauguração da fábrica, Lula tem outras atividades programadas em Pernambuco. Às 16h, ele visitará o Hospital Ariano Suassuna Hapvida, no Recife, para acompanhar o início de atendimentos especializados para pacientes do SUS, parte do programa “Agora Tem Especialistas”, que visa reduzir filas de espera por consultas. Às 17h, o presidente participará da entrega de 599 títulos de regularização fundiária na comunidade de Brasília Teimosa, em parceria com a prefeitura do Recife, abrangendo uma área de 80 mil m², avaliada em mais de R$ 3,8 milhões.