
O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, anunciou sua saída do governo nesta sexta-feira (2), após um período conturbado marcado por investigações sobre fraudes e desvios de recursos relacionados a aposentadorias e pensões do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Lupi, que estava à frente do ministério desde o início do governo, há dois anos e quatro meses, fez o anúncio em uma rede social, agradecendo ao presidente Lula pela confiança e pela oportunidade de servir no cargo.
A demissão de Lupi já era esperada dentro do governo, especialmente após a revelação de um esquema de fraudes no INSS. O ex-deputado Wolney Queiroz, que ocupava a posição de número 2 de Lupi, assumirá o ministério. Aliados do PDT, partido ao qual Lupi é licenciado, já recomendavam sua saída em decorrência da crise.
Em sua declaração, Lupi enfatizou que não foi mencionado nas investigações e negou qualquer envolvimento em irregularidades. Ele afirmou: “Tomo esta decisão com a certeza de que meu nome não foi citado em nenhum momento nas investigações em curso”, ressaltando o apoio das áreas da Previdência e dos órgãos de controle do governo durante as apurações.
Lupi, que é uma figura influente no PDT e um aliado de longa data de governos petistas, já havia enfrentado demissões em administrações anteriores, como no governo de Dilma Rousseff, também devido a denúncias de corrupção.
Mudanças na Estrutura da Previdência
Recentemente, o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, escolhido por Lupi, foi demitido. Durante um pronunciamento no Dia do Trabalhador, Lula anunciou que irá exigir o ressarcimento das associações que realizaram cobranças ilegais aos aposentados, afirmando: “Determinei à Advocacia-Geral da União que as associações que praticaram cobranças ilegais sejam processadas”.
A situação de Lupi se tornou insustentável, especialmente com o risco de que o PDT deixasse a base do governo, o que poderia fragilizar ainda mais a posição do governo no Congresso Nacional.
Tentativas de Defesa
Nos últimos dias, Lupi buscou defender sua gestão, tentando preservar Stefanutto e assistindo à nomeação do procurador federal Gilberto Waller Júnior como novo presidente do INSS. Ele também se esforçou para reverter a percepção de omissão em relação às irregularidades, defendendo a prisão dos envolvidos.
Documentos obtidos pela imprensa mostraram que Lupi foi alertado sobre o aumento de descontos não autorizados em aposentadorias, mas levou quase um ano para tomar providências.
O Conselho Nacional da Previdência Social, que é presidido pelo ministro da Previdência, reúne representantes da cúpula da pasta, do INSS, além de associações de aposentados e sindicatos, e é responsável por estabelecer diretrizes e avaliar a gestão da previdência.
A gestão de Lupi enfrentou críticas, especialmente pelo não cumprimento da promessa de eliminar as filas para perícias do INSS.
Operação da Polícia Federal
A operação da Polícia Federal (PF) e da Controladoria-Geral da União (CGU) revelou um esquema em que associações que prestam serviços a aposentados cadastravam pessoas sem autorização, utilizando assinaturas falsas para descontar mensalidades dos benefícios do INSS. Segundo as investigações, o esquema começou em 2019, durante o governo de Jair Bolsonaro, e continuou no atual governo de Lula, com prejuízos estimados em até R$ 6,3 bilhões para os aposentados até 2024.
A operação resultou na apreensão de diversos itens de valor, incluindo dinheiro em espécie, carros de luxo, joias e relógios. A PF identificou Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS, como o principal operador do esquema, que possui 22 empresas registradas no mesmo endereço em Taguatinga, a 20 km de Brasília.