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Maioria dos evangélicos de Alagoas concorda com o casamento homoafetivo
26 de dezembro de 2024 / 10:26
Foto: Divulgação

Mais de uma década após a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo no Brasil, o tema ainda divide opiniões e evidencia os desafios na busca por igualdade. Desde 2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) reconhece essas uniões como entidades familiares, marcando um avanço histórico nos direitos civis. Contudo, o debate permanece cercado por resistências culturais e preconceitos.

Em Alagoas, os dados de uma pesquisa inédita conduzida pelo Ibrape em parceria com o portal CadaMinuto mostram que 50% dos evangélicos são favoráveis ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, enquanto 47% são contrários e 4% não sabem ou não opinaram. Entre os católicos, a maioria (51%) se posiciona contra, 45% são favoráveis e 4% não têm opinião formada. (Veja abaixo mais detalhes da pesquisa)

No panorama geral, os números revelam que 49% dos alagoanos se declaram contrários à união homoafetiva, 47% são favoráveis e 4% não souberam ou não opinaram.

Apesar disso, o tema apresenta avanços significativos em algumas regiões do estado. No Agreste alagoano, 50% dos entrevistados se dizem favoráveis, enquanto 43% são contrários e 7% não souberam ou não responderam. 

Em Arapiraca, a maior cidade da região, os números seguem a mesma tendência: 51% apoiam o casamento entre pessoas do mesmo sexo, 44% são contrários e 5% não opinaram.

A grande surpresa vem de Maceió. Apesar de ser uma capital onde o conservadorismo e a direita têm ganhado força nos últimos anos, 53% dos entrevistados se mostram favoráveis à união homoafetiva, enquanto 43% são contrários e 4% não sabem ou preferiram não opinar.

O apoio ao tema também é maior entre os jovens, especialmente nas faixas etárias de 16 a 24 anos e de 25 a 34 anos, além de ser predominante entre alagoanos com ensino superior, evidenciando mudanças geracionais e o impacto da educação na aceitação da diversidade.

Faixa etária 

– 16-24 anos – 53% (sim), 42% (não) e 5% não sabe ou não opinaram; 

– 25-34 anos – 51% (sim), 44% (não) e 5% não sabe ou não opinaram;  

– 35-44 anos – 48% (sim), 48% (não) e 4% não sabe ou não opinaram;

– 45-59 anos – 43% (sim), 53% (não) e 3% não sabe ou não opinaram;

– 60 ou mais – 43% (sim), 53% (não) e 4% não sabe ou não opinaram.

Escolaridade 

– Analfabeto – 36% (sim), 58% (não) e 6% não sabe ou não opinaram; 

– Fundamental – 49% (sim), 48% (não) e 3% não sabe ou não opinaram; 

– Médio – 46% (sim), 49% (não) e 4% não sabe ou não opinaram;

– Superior – 51% (sim), 42% (não) e 7% não sabe ou não opinaram.

Desafios e avanços da comunidade LGBTQIAPN+ em Alagoas

O militante LGBTQIAPN+ e membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em História, Gênero e Sexualidade (GEPHGS) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Roniel Rodrigues, destaca o papel central da disseminação de informações na promoção de direitos e respeito. 

“Acredito que o avanço nas discussões sobre direitos e respeito à comunidade LGBT+ acontece, em grande parte, devido à ampla disseminação de informações”, afirmou.

Rodrigues defende que a necessidade de desmistificar preconceitos religiosos em relação à homoafetividade. Ele ressalta que “se uma pessoa que se diz cristã evangélica afirma respeitar o próximo, é fundamental que esse respeito também seja estendido a casais homoafetivos”. 

Embora Alagoas tenha índices alarmantes de violência contra essa população, ele reconhece sinais de mudança. “Felizmente, algumas igrejas evangélicas têm demonstrado maior abertura, como a Igreja Batista do Pinheiro, que já realizou casamentos homoafetivos. Isso mostra que parte da comunidade evangélica está começando a compreender e respeitar os casais LGBTQIAPN+.”

Roniel também reforça a importância das conferências nacionais como espaços de luta e conquista de direitos. Ele menciona a Conferência Nacional LGBTQIAPN+ que teve início no primeiro governo Lula e promoveu pautas como o casamento homoafetivo e a adoção de crianças por casais do mesmo sexo. 

A educação, segundo o militante, é uma ferramenta poderosa para quebrar barreiras e ampliar o senso crítico. Ele celebra conquistas significativas no ensino superior, como o fato da Ufal ter formado recentemente a primeira travesti negra no curso de Jornalismo. “Apenas 1% da população trans consegue acessar o ensino superior no Brasil, e menos ainda conclui sua formação. Esse é um marco importante”, destacou.

Entretanto, reconhece que o cenário no interior do estado é muito mais desafiador. “Enquanto Maceió tem maior acesso à informação, em cidades do interior e zonas rurais, há pouco diálogo sobre a comunidade.” 

Ele também chama a atenção para os obstáculos estruturais enfrentados no interior, como o baixo acesso à internet e os altos índices de analfabetismo. Além diss, critica a ausência de representações positivas da comunidade LGBTQIAPN+ nos meios de comunicação locais, sobretudo na televisão.

“Precisamos investir em educação e em comunicação mais acessível para promover um diálogo que inclua todas as pessoas, independentemente de onde estejam”, argumenta. 

Para ele, o reconhecimento do amor entre casais homoafetivos e o combate ao preconceito em todas as suas formas são passos indispensáveis rumo à construção de uma sociedade mais inclusiva. “O amor existe independentemente de ser entre pessoas do mesmo sexo ou de sexos opostos, e é essencial reconhecer isso”, finaliza.

Discussão avança na Câmara 

A Comissão de Direitos Humanos, Minorias e Igualdade Racial da Câmara Federal aprovou, em 13 de novembro deste ano, um projeto de lei que formaliza na legislação brasileira o reconhecimento da união homoafetiva. A proposta agora será encaminhada para avaliação pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

O texto, revisado pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP), relatora do projeto, recebeu ajustes antes de ser submetido à votação. A medida aprovada propõe alterações no Código Civil para consolidar o entendimento já estabelecido pelo STF sobre a união entre pessoas do mesmo sexo.

A pesquisa 

O levantamento entrevistou 3 mil pessoas de 16 anos ou mais, entre os dias 5 e 10 de dezembro de 2024, nas regiões do Agreste, da Mata, do Sertão, Grande Maceió, Norte, Sul, Maceió e Arapiraca. 

O intervalo de confiança é de 95%, e a margem de erro é de 3,0 pontos percentuais para mais ou para menos sobre os resultados totais da amostra.