
Na Paraíba, um grupo de mulheres indígenas conhecido como “Niaras” está transformando a tradição em moda autoral, criando roupas e acessórios artesanais que têm conquistado as passarelas. Localizado na Aldeia Vitória, no município do Conde, o coletivo se destaca por suas criações que incorporam grafismos e elementos naturais, como sementes e penas.
A iniciativa foi apresentada na série “Território de Negócios”, exibida no JPB2, da TV Cabo Branco, como parte das reportagens especiais em homenagem ao Dia dos Povos Indígenas, celebrado no último sábado, 19 de abril.
Até o momento, o coletivo já realizou três desfiles para mostrar suas coleções. O apoio financeiro da Lei Paulo Gustavo foi fundamental para a realização desses eventos.
Representatividade nas Passarelas
Bruna Tabajara, uma das designers do grupo, enfatiza a diversidade das mulheres que desfilam: “No desfile, a gente tem mulheres magras, altas, gordas, baixas. A gente vem trazer a nossa realidade enquanto mulher, e enquanto mulher indígena”.
O coletivo Niaras foi criado com o intuito de capacitar mulheres indígenas, que inicialmente participaram de cursos sobre hortas orgânicas e sistemas agroflorestais. Hoje, o projeto conta com a participação de 40 a 50 mulheres, tanto da aldeia quanto de áreas urbanas.
O Processo Criativo
As coleções de moda indígena são desenvolvidas por Álvaro Tabajara, que colabora com as mulheres na criação das peças. Ele compartilha: “Desde pequeno, eu fui desenvolvendo o desenho. Eu desenhava árvores, plantas, animais. Desde criança, eu já tinha esse gosto”. Embora tenha se sentido inseguro ao receber o convite para desenhar a coleção, ele aceitou o desafio e viu o projeto prosperar.
A artesã Sônia Tabajara, por sua vez, explica que os acessórios são feitos com sementes como açaí, olho-de-boi e lágrimas de Nossa Senhora. Para ela, a emoção de ver o produto finalizado e desfilando é indescritível: “A emoção toma conta, e é muito gratificante”.
Planos Futuros
O coletivo já planeja expandir suas atividades, com a intenção de formar mulheres em habilidades de grafismo para cursos de design gráfico, qualificar novas costureiras e criar o Ateliê das Niaras. Vitória Tabajara expressa sua visão: “Eu sempre imaginei a gente criando roupas, fazendo coisas assim, como telas com nossas pinturas e grafismos, para que as pessoas comprassem e adquirissem uma identidade nossa”.
Mercado em Crescimento
Nathália Tabajara, outra designer do coletivo, vê grande potencial nas vendas online, ressaltando que a maior parte do público consumidor da marca é de fora da Paraíba. Marielza Rodriguez, gestora do Programa do Artesanato da Paraíba, também acredita que há um mercado crescente para a pintura indígena, que valoriza as peças com a identidade local e impulsiona o turismo: “A gente gera desenvolvimento local, integrado e sustentável, através da moda artesanal”.
O analista do Sebrae-PB, Jucieux Palmeira, acrescenta que as peças indígenas são valorizadas no mercado internacional, com preços que podem ser até 15 vezes mais altos do que no Brasil. Ele observa: “Um trabalho indígena do Brasil eu já vi fora com valores absurdos”.
Vitória Tabajara finaliza: “A gente vê que tá ganhando espaço. A gente tá mostrando para as pessoas que o povo Tabajara tá aqui, que a gente não só tá nas coisas tradicionais, como dançar um toré, fazer um grafismo no corpo, mas também na área da moda. Porque a gente indígena pode ser tudo.”