O Agreste pernambucano está se destacando como uma nova área promissora para a produção de vinhos de alta qualidade.
Pernambuco cresceu na produção e tem muito potêncial
Uma recente pesquisa da Embrapa Semiárido, em parceria com a Universidade Federal do Agreste de Pernambuco (Ufape) e o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), indicou seis variedades de uvas específicas para a região, confirmando a viabilidade da produção local e a excelência dos vinhos gerados.
A investigação envolveu o plantio e análise de dez variedades de uvas europeias ao longo de cinco ciclos de produção no campo experimental do IPA, situado em Brejão (PE).
O objetivo foi avaliar o comportamento agronômico dessas variedades, sua adaptação ao clima da região, a qualidade das uvas, o potencial para a vinificação e a viabilidade do processamento em áreas fora dos polos tradicionais.
Quais uvas foram indicadas para o Nordeste pela pesquisa?
- Variedades recomendadas para vinhos brancos:
- Sauvignon Blanc
- Muscat Blanc à Petits Grains (Moscato Branco)
- Viognier
- Variedades recomendadas para vinhos tintos:
- Syrah
- Cabernet Sauvignon
- Malbec
- Desempenho agronômico e produtividade:
- As variedades Sauvignon Blanc, Syrah e Malbec destacaram-se pelo excelente desempenho agronômico, alta produtividade e potencial para produção de vinhos.
- Produtividade média: 10 toneladas por hectare, similar ao polo do Vale do São Francisco.
- Essas três variedades são recomendadas para cultivo no Agreste pernambucano.
- Variedades testadas com desempenho insatisfatório:
- Vinhos brancos: Chardonnay
- Vinhos tintos: Pinot Noir e Petit Verdot
- Essas variedades apresentaram baixo desenvolvimento vegetativo e produtividade reduzida, sendo consideradas inadequadas para a região.
A qualidade dos vinhos produzidos foi também avaliada. A vinificação foi realizada no Laboratório de Enologia da Embrapa Semiárido, utilizando métodos tradicionais em escala experimental.
Os vinhos atenderam aos requisitos da legislação brasileira para vinhos finos secos e receberam elogios em análises sensoriais conduzidas pela equipe da Escola do Vinho, do Instituto Federal do Sertão Pernambucano (IF Sertão-PE).
Desempenho das Variedades de Uvas no Agreste Pernambucano
- Muscat Blanc à Petits Grains: Apresenta um ciclo produtivo de 129 dias, com produtividade média de 6 toneladas por hectare. O vinho branco seco dessa variedade destaca-se pela coloração esverdeada com reflexos dourados, aromas complexos de frutas tropicais e um corpo leve com bom equilíbrio entre álcool e acidez.
- Sauvignon Blanc: Com um ciclo fenológico de 135 dias, a produtividade média é de 11 toneladas por hectare. O vinho dessa variedade é límpido e brilhante, com aromas de frutas brancas e notas cítricas, mostrando equilíbrio e corpo médio.
- Viognier: O ciclo de produção varia de 132 a 138 dias, com produtividade média de 5 toneladas por hectare. O vinho seco de Viognier tem coloração amarelo pálido, aroma complexo com notas de mel e frutas cítricas, e um sabor equilibrado.
- Syrah: O ciclo fenológico é de 144 dias, com produtividade de 10 toneladas por hectare. O vinho tinto seco jovem apresenta coloração rubi, notas de frutas vermelhas e especiarias, com corpo médio e persistência gustativa.
- Cabernet Sauvignon: Apresenta ciclo de 149 a 160 dias e produtividade de 4 toneladas por hectare. O vinho tinto seco jovem tem coloração rubi com reflexos acastanhados, aromas de pimentão verde e especiarias, e um sabor equilibrado.
- Malbec: Com ciclo fenológico de 146 dias e produtividade de 10 toneladas por hectare, o vinho tinto seco jovem da variedade Malbec apresenta coloração rubi com reflexos violáceos, bom brilho e aromas de frutas vermelhas e negras.
Quais cidades em Pernambuco estão se destacando na produção de Uvas
No Agreste pernambucano, algumas cidades têm se destacado na produção de vinho, seja por condições climáticas favoráveis ou por iniciativas voltadas à vitivinicultura. Entre os principais municípios estão:
- Lagoa Grande: Embora esteja mais associada ao Sertão do São Francisco, também tem importância para o contexto enoturístico da região, sendo conhecida como a “capital da uva e do vinho” de Pernambuco.
- Gravatá: Com seu clima ameno e altitude, é um dos destaques na produção de vinhos artesanais.
- Bezerros: Tem investido no cultivo de uvas e na produção de vinhos, além de fomentar o enoturismo local.
- Bonito: Conhecida pelas belezas naturais, também vem se dedicando à produção de vinhos, com iniciativas crescentes no setor.
- Garanhuns: Com clima serrano, ideal para o cultivo de uvas, a cidade tem demonstrado potencial para se desenvolver na vitivinicultura.
Esses municípios, combinados com o crescimento do interesse pelo enoturismo e pela produção artesanal de vinhos, mostram que o Agreste de Pernambuco está consolidando seu espaço nesse segmento.
Integração entre Pesquisa e Empreendedorismo
A vitivinicultura no Agreste pernambucano, especialmente na região de Garanhuns, vem crescendo graças aos esforços da Embrapa Semiárido. O empresário e médico Michel Moreira Leite foi um dos pioneiros a enxergar o potencial da região, investindo na vinícola Vale das Colinas.
Produzindo cerca de 6 mil garrafas de vinho por ano, Leite já conquistou prêmios nacionais e se tornou um exemplo de inovação e sucesso no setor.
A trajetória de Leite começou em 2013, com a compra de um terreno de 37 hectares em Garanhuns. Com apoio técnico da Embrapa, ele desenvolveu um projeto piloto que, em 2018, resultou na criação da Vale das Colinas.
A vinícola prioriza a produção artesanal e práticas sustentáveis, oferecendo atualmente cinco rótulos, sendo três de vinhos tintos e dois de vinhos brancos.
O sucesso da vitivinicultura na região tem atraído novos investidores, como a Vinícola Mello, que iniciou suas atividades em 2021, além de outros projetos em desenvolvimento por várias áreas do Nordeste.
Patrícia Souza Leão, pesquisadora da Embrapa, destaca que o enoturismo na região está atraindo atenção de empreendedores de diversos estados nordestinos. “As pesquisas da Embrapa, em conjunto com seus parceiros, estão impulsionando a vitivinicultura no Brasil, criando novas oportunidades de negócios e promovendo o desenvolvimento econômico no interior do Nordeste”, afirma.
Clima Nordeste
A vitivinicultura tropical no Brasil é praticada tanto em regiões de clima tropical e subtropical de altitude quanto em áreas semiáridas, como o Submédio do Vale do São Francisco.
A microrregião de Garanhuns se destaca por seu clima de altitude, com uma temperatura média anual de 20,6 ºC, possibilitando a realização de apenas uma safra anual.
O cultivo de uvas no Agreste está em fase de aprimoramento, buscando a implementação de sistemas de produção mais eficientes.
Continuar as pesquisas sobre novas técnicas de manejo e cultivares é fundamental para melhorar a competitividade, garantir a qualidade das uvas e promover a diversificação econômica da região, gerando novos postos de trabalho e renda.