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Nordestina é a primeira monja zen budista afro-indígena de linhagem japonesa com mais de 700 anos
12 de julho de 2025 / 09:54
Foto: Divulgação

A baiana Rosali Eliguara Ynaê, de 39 anos, fez história ao se tornar a primeira monja zen budista afro indígena da linhagem japonesa Soto Zen, que possui mais de 700 anos. A cerimônia de ordenação ocorreu no templo Shinōzan Takuonji, localizado no Paraguai, e marca um momento significativo para a comunidade budista, sendo a primeira vez que uma mulher com essas características assume tal posição.

Durante a cerimônia, Rosali, agora chamada de Rōzen, expressou seu desejo de transitar de uma realização individual para um compromisso coletivo. “Sentia essa necessidade de algo a mais, de me colocar à disposição”, declarou.

Nascida em Salvador, Rōzen cursou História na Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), onde teve seu primeiro contato com o budismo, por volta de 2006, através de uma professora que defendia uma tese sobre o tema. Desde então, seu interesse pela meditação a levou a estudar diversas tradições budistas até encontrar a linhagem Soto Zen.

A Tradição Soto Zen

A tradição Soto Zen do budismo enfatiza a busca pela iluminação através da prática meditativa, sendo a “zazen” a principal técnica, que consiste em meditação sentada com o objetivo de purificar a mente.

Raízes Afro Indígenas

Rōzen possui ascendência Kariri Xocó por parte de pai, enquanto sua mãe é sertaneja, branca e católica. Criada nos bairros de Castelo Branco e Liberdade, em Salvador, Rōzen sempre esteve imersa em uma rica diversidade cultural e religiosa, aproximando-se das religiões de matriz africana ao longo de sua vida. Para ela, valorizar os ancestrais e as referências é fundamental. “Axé e Zen são três letras de puro amor em ação no mundo”, afirmou.

Após o contato inicial com o budismo na faculdade, Rōzen se dedicou a estudos, viagens e encontros ao redor do mundo. Em 2024, ela conheceu o Templo Zen Budista Shinōzan Takuonji, em Yguazú, Paraguai, que estava prestes a completar uma década de existência e receberia a visita do Mestre Zen-budista brasileiro Bruno Shōei, que viveu no Japão por nove anos. Encantada com a comunidade e suas tradições, que preservam elementos da cultura japonesa, Rōzen decidiu permanecer no local.

Ela completou um curso de três meses, que envolveu estudos, convivência com a comunidade e aprendizado de japonês e guarani. Ao final, foi aceita como aprendiz do templo e, em maio deste ano, participou da cerimônia de ordenação, que uniu as tradições baianas e japonesas em um evento único.

Cerimônia de Ordenação

A cerimônia de ordenação no Templo Zen Budista Shinōzan Takuonji contou com a presença da família de Rōzen, que viajou ao Paraguai para acompanhar o evento. A celebração foi marcada por um cardápio que misturou culturas, com sushi e acarajé. “No dia da ordenação, meu filho fez acarajé e a comunidade japonesa trouxe sushi, cada um experimentou um pouco. Culturas diferentes podem caminhar juntas”, disse Rōzen.

Agora, como a primeira monja zen budista afro indígena da linhagem japonesa Soto Zen, Rōzen espera inspirar e conectar-se com pessoas que se identifiquem com sua história e características. “Quero abrir caminho para outras pessoas que se parecem comigo”, afirmou.

Atualmente, Rōzen reside no templo no Paraguai, onde se dedica à prática da meditação, dá aulas para crianças e realiza atendimentos de acupuntura para a comunidade.