
O Ministério do Planejamento e Orçamento confirmou nesta quarta-feira, 10, que o salário mínimo de 2026 será de R$ 1.621, representando um acréscimo de R$ 103 em relação ao piso atual, de R$ 1.518. O reajuste corresponde a 6,79% e começará a valer em janeiro de 2026, impactando o pagamento dos trabalhadores e beneficiários a partir de fevereiro do mesmo ano.
A definição do novo valor segue a regra estabelecida na Constituição, que determina a incorporação da inflação medida pelo INPC acumulada nos 12 meses até novembro, somada ao crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes. Para o cálculo de 2026, o dado utilizado foi o desempenho econômico de 2024, que registrou alta de 3,4%.
No entanto, a aplicação integral desse crescimento não é mais automática. A legislação aprovada em dezembro do ano passado, no âmbito do novo arcabouço fiscal, limitou o aumento real do salário mínimo a 2,5%, justamente para conter o impacto das despesas obrigatórias sobre o orçamento público. Assim, o reajuste anunciado resulta da combinação de:
- 4,4% de inflação, referente ao INPC acumulado até novembro;
- 2,5% de ganho real, respeitando o teto estabelecido pela nova regra fiscal.
Impacto sobre a população e a economia
O salário mínimo é referência direta para 59,9 milhões de brasileiros, entre trabalhadores formais, aposentados, pensionistas e beneficiários do Benefício de Prestação Continuada (BPC). Seu aumento tem efeito multiplicador na economia ao elevar o piso salarial, influenciar negociações trabalhistas e ampliar o poder de compra, sobretudo das camadas de renda mais baixa.
Esse aumento, porém, também pressiona as contas públicas, já que diversos benefícios sociais e previdenciários — incluindo aposentadorias, pensões, seguro-desemprego e abono salarial — não podem ser inferiores ao piso oficial. De acordo com estimativas do governo, cada R$ 1 de reajuste no salário mínimo gera um impacto aproximado de R$ 420 milhões no orçamento.
Com isso, o acréscimo de R$ 103 em 2026 deve resultar em custo adicional de cerca de R$ 43,2 bilhões nas despesas obrigatórias.
O crescimento desses gastos pode reduzir o espaço para despesas discricionárias, como investimentos em programas sociais, infraestrutura, educação, saúde e políticas públicas de fomento econômico, criando novos desafios para o governo dentro das metas fiscais.
Debate econômico: sustentabilidade e renda
Alguns economistas defendem a necessidade de desvincular o piso dos benefícios previdenciários do salário mínimo, mantendo apenas a correção inflacionária — modelo utilizado em outros períodos. Para esse grupo, reajustes acima da inflação pressionam a dívida pública, aumentam juros e reduzem capacidade de investimento do Estado.
Por outro lado, entidades como o Dieese destacam que o salário mínimo atual ainda está muito aquém do exigido pela Constituição de 1988, que determina que o piso deve ser suficiente para assegurar condições dignas de vida, incluindo alimentação, moradia, educação, saúde, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência.
Em novembro deste ano, o Dieese calculou que o salário mínimo necessário seria de R$ 7.067,18, valor 4,66 vezes superior ao atual piso de R$ 1.518. Esse indicador revela a distância entre o salário mínimo real e o custo de vida das famílias brasileiras, especialmente as de menor renda.
Perspectivas
O anúncio do salário mínimo de 2026 reacende debates sobre:
- a valorização do trabalho,
- a sustentabilidade fiscal,
- e o papel do salário mínimo como instrumento de redução da desigualdade.
Enquanto o governo busca equilibrar responsabilidade fiscal e proteção social, setores produtivos, movimentos sindicais e especialistas continuam dialogando sobre o modelo ideal para garantir estabilidade econômica sem comprometer o bem-estar da população.