
Se você já conversou com um cearense, um baiano e um paraibano na mesma roda, provavelmente percebeu que, embora todos sejam nordestinos, os sotaques são bem distintos. O Nordeste é uma região unida por sua cultura vibrante, culinária marcante e povo acolhedor, mas quando o assunto é sotaque, cada estado tem sua própria melodia.
Essas diferenças são resultado de uma combinação de fatores históricos, geográficos e culturais — e nos ajudam a contar a história viva da formação do Brasil. Vamos entender melhor por que falamos tão diferente e explorar algumas das marcas linguísticas que fazem do Nordeste uma verdadeira colcha de retalhos sonoros.
Influência começa com os povos formadores
Os sotaques nordestinos têm raízes nas línguas indígenas, africanas e, claro, no português europeu. Além disso, a forma como cada região se desenvolveu — com mais ou menos contato com outras partes do país ou do mundo — moldou o jeito de falar dos seus habitantes.
“Os sons do Nordeste contam uma história. Cada vogal aberta ou consoante aspirada é um rastro de migração, de resistência cultural ou de adaptação ao ambiente linguístico”, explica a linguista Gabriela Ramos, da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Diferenças que encantam: veja alguns traços típicos por estado
Estado | Características marcantes do sotaque | Exemplo do dia a dia |
---|---|---|
Bahia | Fala mais arrastada, com ritmo lento; entonação musical | “não aperte minha mente” |
Pernambuco | Chiado no “s”, ênfase nas vogais abertas | “Visse, foi massa demais!” |
Ceará | Pronúncia rápida; uso de expressões próprias como “oxe”, “abestado”, “égua” | “Tu vai pra onde, visse?!” |
Rio Grande do Norte | Mistura de traços do sertão e do litoral; cadência suave | “Vai te rear, arrombado” |
Paraíba | Ênfase na sílaba final das palavras; uso do “oxente”, “cabra”, “arretado” | “Varei, que cumê peba da mulesta!” |
Alagoas | Parecido com o de PE no litoral, mais lento no sertão | “Num foi, mermão?!” |
Sergipe | Influência baiana no interior, pernambucana no litoral | “Ôxi, tá com pressa, é?” |
Maranhão | Sotaque mais fechado, traços do Norte do Brasil; entonação própria | “Bicho, tá é quente demais hoje!” |
Piauí | Fala pausada no interior, mais rápida na capital; muitas palavras indígenas | “Vixe, que fulô bonita essa aí!” |
Mais do que sotaques, identidades
O sotaque é parte da nossa identidade. Ele diz de onde viemos, o que vivemos e até como nos relacionamos com os outros. Infelizmente, ainda há quem associe sotaques nordestinos à ideia preconceituosa de “fala errada” — o que é um mito absoluto. Todas as formas de falar são válidas e ricas, cada uma com sua história.
Como diz o linguista Marcos Bagno, “não existem línguas erradas — existem línguas diferentes”.
Um convite à escuta
Conhecer os sotaques nordestinos é abrir os ouvidos para um Brasil mais diverso. Assim que tal prestar mais atenção nas palavras, no ritmo e nas expressões da sua região ou da próxima viagem ao Nordeste? Você vai descobrir que, mais do que sotaques, são vozes cheias de histórias para contar.