
A praia do Segredo, localizada em Natal (RN), é conhecida por suas paisagens cênicas e beleza natural, mas tem se tornado um local de preocupação devido ao acúmulo de lixo, especialmente embalagens de produtos provenientes da Ásia. Durante uma visita em dezembro, foram encontradas diversas embalagens de plástico, como garrafas de bebidas não alcoólicas, produtos de limpeza e recipientes de óleo de motor, que se destacavam na areia clara e na vegetação da região.
Embora a praia seja menos frequentada do que outras mais urbanizadas, como a de Ponta Negra, a quantidade de lixo acumulado é alarmante. As embalagens encontradas eram, em sua maioria, de produtos fabricados em países como China, Indonésia, Cingapura, Emirados Árabes Unidos, Malásia e Coreia do Sul. Muitas dessas embalagens estavam praticamente intactas, indicando que foram descartadas recentemente.
Por que esse lixo está aparecendo?
Um estudo realizado pela empresa de celulose Verocel em julho de 2024 revelou que a presença de lixo plástico estrangeiro não é um problema isolado da praia do Segredo, mas também foi detectada em praias do município de Belmonte, na Bahia. O professor Alexander Turra, do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, sugere que o descarte de lixo por navios é a explicação mais provável para a presença dessas embalagens. O transporte marítimo, que representa cerca de 90% do comércio global, é intenso entre o Brasil e a Ásia, com muitos produtos sendo enviados para o país.
Turra explica que muitos dos produtos consumidos a bordo dos navios acabam sendo descartados no mar, especialmente perto dos portos. Isso se torna um problema mais visível em praias remotas ou que não são limpas com frequência, como é o caso da praia do Segredo.
Impactos da poluição marinha
A poluição causada pelo lixo plástico tem diversas consequências negativas, tanto para o meio ambiente quanto para a economia local. A presença de lixo nas praias pode afastar turistas, prejudicando a atividade econômica da região. Além disso, a vida marinha sofre com o risco de animais ficarem presos ou ingerirem embalagens, o que pode levar à morte por asfixia ou a problemas de saúde devido à ingestão de microplásticos.
Possíveis soluções
Desde 1972, existem resoluções internacionais que proíbem o descarte de lixo não orgânico no mar, mas muitos navios ainda desrespeitam essas normas. Turra sugere que a solução poderia incluir a implementação de uma taxa fixa para o descarte de lixo nos portos, independentemente da quantidade, além de uma fiscalização mais rigorosa para punir aqueles que não separam o lixo orgânico do não orgânico.
Contatada sobre o problema, a Associação de Donos de Navios Asiáticos (ASA) afirmou que considera deplorável o descarte de lixo na costa brasileira e que seus membros seguem regulamentos internacionais. No entanto, a ASA também observou que não é possível afirmar que as embalagens encontradas foram descartadas exclusivamente por navios asiáticos, já que embarcações de todo o mundo operam em portos da Ásia.
No Brasil, a responsabilidade pelo combate à poluição nas praias é compartilhada entre diferentes órgãos governamentais, incluindo a Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A Marinha também desempenha um papel importante na fiscalização das embarcações em águas brasileiras, podendo impor multas significativas para quem descarta lixo de forma inadequada.
Coordenação e desafios no combate à poluição
Especialistas como a professora Ingrid Zanella, da Universidade Federal de Pernambuco, destacam a necessidade de uma coordenação eficaz entre os órgãos federais e locais para combater a poluição marinha. Apesar de a poluição ser uma prioridade para agências ambientais globais, o Brasil ainda enfrenta desafios significativos, como a vasta extensão de sua costa e a dificuldade em identificar os responsáveis pelo descarte ilegal de lixo.