
Um transplante cardíaco inédito foi realizado em Alagoas, proporcionando uma nova chance de vida para Samuel, um adolescente de apenas 16 anos. O coração utilizado na cirurgia foi captado em Sergipe e transportado para Maceió, em uma operação que envolveu uma equipe médica, suporte logístico e transporte aéreo.
Samuel enfrentou nos últimos três anos graves sequelas da dengue hemorrágica, diagnosticada em 2022, que afetaram severamente seu coração. Dependente de medicamentos e hospitalizações frequentes, ele aguardava na fila do Sistema Nacional de Transplantes por um novo órgão.
“Na época, ele tinha 13 anos e teve que interromper seus estudos. Precisava de ajuda até para tomar banho e estava sob a constante administração de muitos medicamentos. Foi um período de muito sofrimento e internações. Os médicos indicaram o transplante de coração”, recordou Ana Carla, mãe do jovem.
Na madrugada da semana passada, Ana Carla recebeu a tão aguardada ligação: havia um coração compatível disponível em Aracaju. “Às quatro horas da manhã, o telefone tocou e, ao ver que era do hospital, soube que a esperança de mudança de vida estava chegando para o meu filho. Foi um momento de muita alegria, choramos juntos e corremos para o hospital”, compartilhou emocionada.
A cirurgia foi realizada no Hospital do Coração Alagoano, marcando o primeiro transplante do estado com um órgão captado fora de Alagoas. O procedimento foi concluído dentro do tempo estipulado de quatro horas, com o coração chegando a Maceió em apenas duas horas após a retirada em Sergipe.
Como funciona o processo de transplante
Daniela Ramos, coordenadora da Central de Transplantes de Alagoas, explicou: “Quando a morte encefálica é confirmada e a família autoriza, uma série de exames é realizada para verificar a compatibilidade com o receptor. As documentações são inseridas no Sistema Nacional de Transplantes, que gera um ranking de receptores compatíveis com o doador. Essa central faz a distribuição a nível nacional para garantir a compatibilidade.”
O coração foi transportado de helicóptero, e desde a retirada do órgão em Aracaju, começou a corrida contra o tempo para o implante em Samuel em Maceió. “Levamos duas horas do início da retirada do coração até a chegada no hospital. Assim, tivemos mais duas horas para realizar o implante. Conseguimos fazer dentro do tempo e o coração está batendo forte no peito do receptor”, afirmou Diego André, cirurgião cardiovascular.
Até julho deste ano, a Central de Transplantes de Alagoas já havia realizado 76 transplantes, incluindo córneas, rins, fígados e corações. Apesar dos avanços, quase 600 pessoas ainda estão na fila à espera de um órgão.
“A lista é extensa e muitas pessoas aguardam o consentimento de uma família. É crucial que você converse com seus familiares sobre a doação de órgãos. Assim, no momento da dor, quando a perda acontece, o desejo de salvar vidas, como a do Samuel, pode ser mais facilmente atendido”, enfatizou a coordenadora da central.
Samuel está se recuperando bem da cirurgia e agora pode sonhar com um futuro promissor. “Até então, não imaginava ver meu filho crescer. Hoje, somos imensamente gratos por essa chance de vida”, concluiu Ana Carla, emocionada.