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Recife e suas pontes: a essência da mobilidade na ‘Veneza Brasileira’
23 de dezembro de 2024 / 08:26
Foto: Daniel Tavares/PCR

Cortada pelos Rios Capibaribe e Beberibe, a cidade do Recife faz jus ao título de “Veneza Brasileira”, uma vez que é cercada por água e ligada por pontes e pontilhões. Diante desta articulação, o Diario de Pernambuco preparou uma série de reportagens que abordam as principais pontes da capital, pontuando a importância histórica e cultural de cada uma, e como elas contribuem para a mobilidade e turismo.

O Recife conta atualmente com mais de 50 pontes distribuídas nas Zonas Norte, Sul, Oeste e, principalmente, no Centro, onde elas possuem um grande peso e papel na mobilidade, uma vez que permitem a passagem de milhares de veículos e pedestres diariamente.

Para que bairros como Santo Antônio, São José, Cabanga e Joana Bezerra não ficassem isolados, foi preciso construir pontes que permitissem o deslocamento através de veículos automotores, carroças e bicicletas.

“Recife é uma cidade estuarina e muitas áreas que eram alagadas foram aterradas e foram confinando os espaços da água. As ilhas naturais foram ampliadas. Então é necessário conectá-las. A cidade tem uma frente atlântica, que é a Costa Leste, que fez com que ela tivesse apenas os eixos de crescimento Norte, Sul e Oeste, porque o Leste é onde fica o mar”, afirma o doutor em Engenharia Civil e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Carlos Calado.

Recentemente, no dia 10 de dezembro, a capital pernambucana ganhou um pontilhão na Avenida Governador Agamenon Magalhães, uma das principais vias da cidade. O equipamento conecta a Rua Amélia e a Rua José Luís da Silveira Barros diretamente à pista da Agamenon, no sentido Olinda. 

O objetivo da construção deste pontilhão é aliviar o trânsito da Avenida Rui Barbosa e melhorar a fluidez no entorno, mostrando como este tipo de construção é fundamental para a mobilidade da cidade.

“Uma obra pequena sobre o canal permite que o trânsito da Praça do Entrocamento seja aliviado. Uma obra como essa ajuda muito a destravar o trânsito da cidade. O nosso sistema viário não comporta o fluxo de tráfego e é preciso segregar por baixo, com o metrô, por cima, com viadutos, e em nível, com as pontes”, destaca o professor da UFPE Carlos Calado.

Em agosto, a Prefeitura do Recife liberou, após mais de 12 anos, a  Ponte Professor Jaime Gusmão, que liga as Zonas Oeste e Norte da capital. A estrutura foi esperada por mais de uma década por cerca de 60 mil motoristas, ciclistas e pedestres que, agora, economizam metade do tempo no deslocamento, uma vez que não são mais obrigados a percorrerem por corredores viários lotados, como a BR-101.

Antes da construção desta ponte, não havia nenhuma outra estrutura do tipo, num trecho de cerca de 5km do rio, que permitisse a passagem de carros na localidade.

“Essas pontes, desde os pontilhões, são fundamentais para dar conectividade e garantir o fluxo, como um artéria, para dar condições do fluxo do tráfego. Se não fossem as pontes, o Recife não andava”, destaca o engenheiro civil Carlos Calado.

Durante a inauguração da Ponte Professor Jaime Gusmão, a gestão municipal fez questão de destacar que há 20 anos o Recife não recebia uma ponte deste porte. A estrutura começou a ser levantada em 2012 e tinha previsão para ser entregue em 2014, mas as obras se arrastaram e ficaram paralisadas até a atual gestão.

Pontes mais antigas e históricas do Recife garantem a mobilidade dos moradores e visitantes há séculos, como a Ponte Duarte Coelho, Ponte Santa Isabel, Ponte Giratória e a Ponte Maurício de Nassau e a Ponte Estaiada. O Diario de Pernambuco entrevistou especialistas no tema para explicar como estas estruturas são essenciais para o funcionamento da cidade. 

Ponte Duarte Coelho

A Ponte Duarte Coelho é uma das principais estruturas do Centro do Recife, uma vez que é responsável por ligar as avenidas Conde da Boa Vista e Guararapes. A ponte que está de pé hoje foi construída na gestão do prefeito Novaes Filho e inaugurada em 1943, após ser interditada por conta da má conservação.

A Ponte Duarte Coelho também recebe, durante o Carnaval, o Galo da Madrugada, que passa próximo a ela, saindo da Avenida Guararapes e seguindo pela Rua do Sol. Por conta da estrutura, são feitos bloqueios na Avenida Conde da Boa Vista/Rua da Aurora, Rua do Sol/Ponte Duarte Coelho e na Avenida Dantas Barreto/Avenida Guararapes. 

Centenas de agentes de trânsito são mobilizados para orientar os motoristas por conta da interdição da ponte, que acaba mudando todo o trânsito da localidade. Além disso, em 2024, por conta da montagem do Galo, 131 linhas de ônibus, sendo 84 convencionais, 7 BRT’s e 40 bacuraus, mudaram temporariamente o itinerário.

Ponte Giratória

Inaugurada em 5 de dezembro de 1923, a Ponte Giratória liga o Bairro do Recife ao de São José. O equipamento era símbolo de um Recife mais moderno e permitia a passagem de embarcações, uma vez que era capaz de girar.

Atualmente, a estrutura passa por obras que só devem ser finalizadas em 2026 e que incluem reforço do tabuleiro interno, incluindo as faces laterais das vigas longarinas, como também a execução de um sistema de protensão externa dessas vigas, tanto na face inferior quanto na face superior do tabuleiro.

Por conta da interdição, o trânsito do bairro São José foi alterado e nenhum veículo consegue cruzar pela ponte para chegar ao Bairro do Recife. 

A alternativa tem sido adentrar no bairro do Recife pela ponte Maurício de Nassau ou pela ponte do Limoeiro para quem vem pela zona norte da cidade. O Bairro do Recife hoje é uma ilha, e o acesso, de fato, fica restrito às quatro pontes que conectam o Recife Antigo com o restante da cidade. Para a professora do Laboratório de Estudos e Ensino sobre o Recife da UFRPE Mariana Zerbone, “não há alternativa para além destas, ou esperar a reforma da ponte ser finalizada”.

Já a professora de Geografia da UFPE e membro do CREA e da Academia Pernambucana de Ciências (APC) Edvania Torres, pontua que “a demora na conclusão dos trabalhos impacta cotidianamente os pedestres que necessitam sair do Terminal do Cais de Santa Rita para realizar suas atividades de trabalho e lazer”

Ponte Estaiada

A Ponte Estaiada, ou Ponte Governador Paulo Guerra, é responsável por ligar os bairros Cabanga e Pina. A estrutura faz parte da Via Mangue e foi feita pela Secretaria de Infraestrutura e Serviços Urbanos, através da Empresa de Urbanização do Recife (URB). 

O equipamento possui três faixas de tráfego de veículos à esquerda e uma área de contemplação do Rio Capibaribe.

“A Ponte Estaiada foi ‘sangrada’ para permitir o giro à direita que permite acesso ao RioMar e à Via Mangue. Ela também foi uma obra importante para aliviar as vias de Boa Viagem, como a Avenida Conselheiro Aguiar, Avenida Boa Viagem e a Avenida Domingos Ferreira”, pontua o engenheiro Carlos Calado.

Já a professora da UFRPE Mariana Zerbone explica que esta ponte foi  “concebida para ser uma articulação da ponte do Pina com a via Mangue, como uma alça que que interliga o centro à via expressa da zona sul, fazendo parte do complexo Riomar. Teve o início das obras em 2012 e a sua inauguração em 2014. A alça foi importante para a conexão com o fluxo rápido da via Mangue e para a conexão com o complexo do Shopping, contudo o fato de ser estaiada não está relacionado com uma necessidade estrutural para a área, uma ponte nos moldes tradicionais seria suficiente para esta conexão com a Via Mangue”.

No entanto, para a profissional, a ponte traz consigo uma ideia de progresso e de modernidade do século XXI. Ela destaca que a Ponte do Pina, construída na década de 1920, teve um impacto maior na modificação e urbanização da cidade, já que permite a conexão para a Zona Sul do Recife.

Ponte Princesa Isabel

A Ponte Santa Isabel é uma das pontes urbanas recifenses sobre o Rio Capibaribe e é a última ponte sobre este rio, antes de sua junção com o Rio Beberibe, atrás do Palácio do Campo das Princesas. Ela liga os bairros de Santo Antônio e Boa Vista.

Em 2022, a Ponte Princesa Isabel passou por um processo de requalificação que custou mais de R$ 10 milhões aos cofres municipais. 

O serviço, que só foi concluído no segundo semestre de 2024, incluiu a recuperação do tabuleiro, do guarda-corpo, substituição de 90 aparelhos de apoio, recuperação das vigas e lajes, chegando a um total de 9.333,17 m² de área recuperada e reforçada, dentre outras intervenções. 

Estas obras tiveram impacto, principalmente, no percurso feito por pedestres e ciclistas, que utilizavam a calçada da ponte para se deslocar. Tapumes inseridos nesta parte da ponte por conta dos serviços impediu que a calçada fosse utilizada por meses, mostrando que a utilização destas estruturas vai além de veículos automotores.