
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, divulgou na última terça-feira (30) uma lista de produtos brasileiros que estarão isentos de tarifas e aqueles que sofrerão um aumento de 50% nas taxas a partir do dia 6 de agosto. Entre os itens que não serão taxados estão os produtos de siderurgia, que representam a principal exportação do Ceará. Por outro lado, o setor de pescados, que depende fortemente do mercado americano, será impactado com as novas tarifas.
Em 2024, os pescados foram o segundo produto mais exportado do Ceará para os Estados Unidos, ficando atrás apenas do aço. O estado exportou um total de US$ 54 milhões em pescados, dos quais US$ 52 milhões foram destinados ao mercado americano. Nos últimos anos, o Ceará se destacou como o maior exportador de pescados do Brasil.
Embora a China seja o principal parceiro comercial do Brasil, os Estados Unidos se destacam como o maior parceiro do Ceará. Os produtos mais exportados para os EUA incluem aço, pescados, sucos, castanha e pás eólicas. Em 2024, 44,9% das exportações cearenses foram direcionadas aos americanos, e entre janeiro e junho de 2025, essa porcentagem subiu para 51%.
Impacto das Tarifas no Setor de Pescados
Paulo Gonçalves, primeiro secretário do Sindicato das Indústrias de Frio e Pesca do Ceará (Sindfrio), expressou preocupação com a taxação e afirmou que o setor está em diálogo com seus clientes para determinar os próximos passos. Segundo o sindicato, as empresas cearenses comercializam 100% dos peixes costeiros para os Estados Unidos.
Os calçados, outro item relevante nas exportações do Ceará, também serão taxados. A situação da castanha de caju, por sua vez, permanece incerta, já que o governo americano isentou a “Brazil nuts”, que geralmente se refere à castanha-do-pará, mas ainda não está claro se essa isenção se aplica à castanha de caju produzida no estado.
A introdução das tarifas, anunciada no início de julho, gerou apreensão entre os empresários cearenses, uma vez que o Ceará é o estado mais dependente dos EUA em termos de exportações. Embora os Estados Unidos sejam os maiores compradores de produtos cearenses, o estado ocupa apenas a décima segunda posição no ranking de exportadores brasileiros para os EUA.
Relação Econômica entre Ceará e EUA
A forte ligação econômica entre o Ceará e os Estados Unidos se deve principalmente às exportações de aço, ferro e produtos similares. De acordo com João Mário de França, economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV), as exportações da siderurgia representam cerca de 76,5% do total das vendas do Ceará para os EUA.
No primeiro semestre de 2025, o Ceará exportou mais de US$ 1,1 bilhão, sendo que US$ 528 milhões desse total vieram do setor de siderurgia, representando quase metade das exportações do estado.
Os principais produtos cearenses exportados para os Estados Unidos em 2024 foram:
- Ferro fundido, ferro e aço: US$ 441,3 milhões
- Peixes e crustáceos, moluscos e outros invertebrados aquáticos: US$ 52,8 milhões
- Preparações de produtos hortícolas, de frutas ou de outras partes de plantas: US$ 37,2 milhões
- Calçados, polainas e artefatos semelhantes: US$ 36,9 milhões
- Gorduras e óleos animais ou vegetais: US$ 16,7 milhões
Com 76% das suas exportações voltadas para os Estados Unidos, o setor de siderurgia é um dos mais vulneráveis às novas tarifas, embora tenha sido isento das taxas conforme o decreto de Trump.
O Ceará é o estado brasileiro com maior dependência dos Estados Unidos para suas exportações, com 44,9% dos produtos cearenses destinados ao mercado americano em 2024. Em comparação, o Espírito Santo, que ocupa o segundo lugar, exportou 28,6% de seus produtos para os EUA.
Apesar da alta dependência, o Ceará foi apenas o décimo segundo maior exportador do Brasil para os Estados Unidos em 2024, enquanto São Paulo liderou com exportações de US$ 13,6 bilhões, representando 19% das vendas totais do estado.
Diante das incertezas geradas pelas novas tarifas, uma das alternativas sugeridas é a diversificação dos mercados compradores dos produtos brasileiros. Embora essa estratégia seja considerada positiva, ela requer tempo e esforços significativos para estabelecer novos contatos e divulgar os produtos em outros países. Portanto, no curto prazo, o foco permanece na negociação com o governo americano para buscar uma redução nas tarifas.