
O tecido de chita, historicamente associado ao cotidiano doméstico, às festas populares e às economias tradicionais do Brasil, ganha novos contornos e potência estética em uma coleção de moda autoral desenvolvida pelas artesãs da Associação Artesanal Chitarte, situada em Cachoeira, no coração do Recôncavo baiano. O que antes era visto apenas como um material simples e acessível se transforma, pelas mãos das criadoras, em símbolo de afirmação identitária, inovação artesanal e valorização cultural.
A coleção nasce da união entre ancestralidade, memória afetiva e técnicas tradicionais, inspirando-se profundamente nas mulheres que marcaram a vida de cada artesã — mães, avós, vizinhas e matriarcas que, com suas práticas e saberes, moldaram modos de viver, de criar e de resistir. Essas referências atravessam as peças não apenas como homenagem, mas como continuidade viva de uma herança feminina que permanece pulsante no Recôncavo.
Confeccionado em algodão leve, a chita é facilmente reconhecida por suas estampas florais vibrantes, cores intensas e forte presença na cultura popular brasileira. Na coleção, o tecido emerge como protagonista, servindo de base para roupas e acessórios que mesclam tradição e contemporaneidade. As artesãs exploram a plasticidade do material, ampliando seus usos e atribuindo-lhe nova sofisticação.
Além da chita, as peças incorporam uma multiplicidade de elementos que dialogam com a realidade local e com práticas sustentáveis, como bordados artesanais, recortes estruturais, sementes naturais, couro, sacolas plásticas reutilizadas e retalhos provenientes de outros projetos. A combinação desses materiais cria texturas únicas, transformando cada trabalho em um item singular que representa tanto a criatividade das artesãs quanto o compromisso com o reaproveitamento de recursos e a produção consciente.
O resultado é uma coleção que transcende o campo da moda e se afirma como manifestação cultural. As roupas e acessórios da Chitarte traduzem narrativas de vida, trajetórias de mulheres e a força do artesanato baiano, ressignificando um tecido historicamente popular e reafirmando seu lugar no design contemporâneo.