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Teste rápido e acessível para detecção de metanol promete salvar vidas, mas carece de investimento
5 de outubro de 2025 / 17:34
Foto: Divulgação

O governo de São Paulo confirmou, no último sábado (4), a segunda morte decorrente do consumo de bebidas contendo metanol, um composto químico industrial que pode ser encontrado em solventes e combustíveis. Até o momento, o estado registra 14 casos confirmados de intoxicação por metanol, que é altamente tóxico e impróprio para o consumo humano, incluindo os dois óbitos, ambos de homens com idades de 46 e 54 anos, residentes na capital.

Além dos casos confirmados, o governo estadual investiga 148 outras ocorrências, com sete mortes suspeitas, sendo quatro na cidade de São Paulo, duas em São Bernardo do Campo e uma em Cajuru. A Polícia Civil está apurando se as bebidas envolvidas eram falsificadas ou adulteradas, ou se o metanol foi utilizado na higienização dos produtos.

Devido à sua incoloração e odor semelhante ao etanol, a presença de metanol em bebidas é difícil de detectar. A recomendação das autoridades é evitar completamente o consumo de destilados. No entanto, pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Araraquara desenvolveram uma técnica inovadora, há três anos, que pode ajudar a identificar a presença de metanol em bebidas alcoólicas.

Técnica Inovadora para Detecção de Metanol

Criado em 2022 no Instituto de Química (IQ), o método permite identificar de forma simples, econômica e rápida se amostras de gasolina, etanol, cachaça, vodca ou uísque contêm quantidades de metanol acima do limite permitido. Ao contrário da cromatografia gasosa, que é cara e demanda tempo, a técnica da Unesp oferece resultados em poucos minutos, sem a necessidade de equipamentos complexos.

O processo consiste em duas etapas: primeiro, um sal é adicionado à amostra, transformando o metanol em formol; em seguida, um ácido é incorporado, alterando a cor da solução. O tempo de reação varia de 15 minutos para etanol e bebidas alcoólicas a 25 minutos para gasolina.

Após a reação, a coloração final da amostra indica a concentração de metanol:

  • Verde: ausência de metanol significativo;
  • Verde amarronzado: entre 0,1% e 0,4%;
  • Marrom: entre 0,5% e 0,9%;
  • Roxo: de 1% a 20%;
  • Azul-marinho: de 50% a 100%.

Os pesquisadores visam transformar essa descoberta em kits de baixo custo, estimados em cerca de R$ 10. Larissa Modesto, que liderou o estudo, acredita que a adoção em larga escala é viável, mas requer investimentos. Para isso, uma empresa precisaria adquirir os direitos de comercialização da patente da Unesp e produzir os kits.

Importância da Detecção Rápida

Especialistas independentes consideram que essa inovação pode ser crucial no combate à intoxicação por bebidas alcoólicas. Márcia Ângela Nori, professora de Engenharia de Alimentos, destaca que um kit para identificação rápida de metanol seria uma ferramenta importante de controle e defesa do consumidor, especialmente diante da sofisticação das falsificações.

Fabio Rodrigues, pesquisador da USP, ressalta a necessidade de avaliar custos e a viabilidade de produção em larga escala. Ele compara o método a bafômetros, que detectam álcool no organismo, e enfatiza a importância de entender a viabilidade de fabricação em grande quantidade.

A técnica já possui duas patentes registradas no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e está em negociação com setores público e privado para viabilizar a produção dos kits. Larissa Modesto mencionou que já houve interesse tanto de empresas privadas quanto do poder público, mas ainda não foram recebidas ofertas formais para licenciamento.

Consequências da Intoxicação por Metanol

O metanol é extremamente tóxico e, em altas doses, pode causar cegueira ou até a morte. A legislação brasileira limita sua presença em combustíveis a 0,5% e em bebidas destiladas a 20 mg a cada 100 ml. Os primeiros sintomas da intoxicação podem aparecer entre duas e 48 horas após a ingestão, dependendo da quantidade consumida.

Após a absorção, o metanol é metabolizado no fígado, gerando substâncias tóxicas que afetam rapidamente o sistema nervoso, especialmente os neurônios. Isso pode levar a uma condição chamada acidose metabólica, que sobrecarrega o coração, os pulmões e os rins, podendo resultar em falência múltipla de órgãos.

O tratamento deve ser realizado em ambiente hospitalar, frequentemente utilizando etanol na forma farmacêutica para manter níveis constantes de álcool no sangue até que o metanol seja eliminado. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou recentemente a compra de 2,5 mil unidades de um antídoto para o tratamento de intoxicações por metanol, além de 12 mil unidades de etanol farmacêutico, que chegarão ao Brasil na próxima semana.