
A Universidade Federal do Maranhão (UFMA) revelou que, entre as 62 solicitações de mudança de nome social, apenas 11 alunos permanecem matriculados nos cursos de graduação. Este alto índice de evasão levou a instituição a estabelecer a Divisão de Gênero e Diversidade (DIGED), com o objetivo de criar um ambiente mais acolhedor e inclusivo tanto na universidade quanto em seu entorno.
Jennifer Flores, uma das alunas que utilizam o nome social, estuda Teatro na UFMA e compartilha que o acolhimento recebido na universidade foi fundamental para sua permanência. “O preconceito está em todo lugar. Infelizmente, ainda enfrentamos estigmas sociais sobre pessoas trans. No entanto, meu curso de arte e teatro me proporcionou um ambiente mais libertador, com professores engajados na causa trans, o que me deu confiança para me aceitar e me assumir como uma pessoa trans”, afirmou Jennifer.
Agora prestes a se formar, Jennifer sonha em ser uma professora e atriz de destaque. “Ver outras pessoas trans ao meu redor me inspirou, assim como sei que também inspirei outras pessoas”, destacou.
A UFMA, pensando no bem-estar de alunos como Jennifer e Pietra Lopes, que também é mulher trans e negra, criou uma diretoria que visa apoiar esses estudantes. Pietra enfatiza a importância da educação como uma forma de resistência e empoderamento. “Todos os xingamentos que enfrentei me motivaram a usar minha voz como líder estudantil, abordando questões importantes com os professores e conquistando avanços, mesmo que lentamente”, comentou.
A Divisão de Gênero e Diversidade tem como missão promover um ambiente universitário inclusivo, abordando desigualdades de gênero, orientação sexual e expressão de identidade. As ações incluem campanhas de conscientização contra a violência de gênero e discriminação, com foco em grupos historicamente marginalizados, como mulheres negras, indígenas e a comunidade LGBTQIA+.
Gisa Carvalho, chefe da DIGED, ressaltou a importância de garantir que todos os alunos se sintam acolhidos na universidade. “Nosso principal objetivo é incluir as pessoas, não apenas na entrada, mas também na permanência, garantindo que se sintam parte desse espaço”, destacou.
Dados alarmantes mostram que 82% das pessoas trans abandonam o ensino médio entre os 14 e 18 anos, e apenas 0,02% conseguem ingressar no ensino superior. Essa realidade evidencia as dificuldades enfrentadas por pessoas trans em ambientes educacionais, reforçando a necessidade de políticas públicas que promovam a inclusão.
Lohanna Pausini, escritora e gestora da casa FloreSer no Maranhão, enfatiza que a luta por ascensão social é marcada por desafios significativos. “A sociedade brasileira é muito transfóbica, e a luta de pessoas trans é frequentemente acompanhada de lágrimas e suor. É crucial refletir sobre a visibilidade das pessoas trans na sociedade”, concluiu Lohanna, destacando a importância do Dia Nacional da Visibilidade Trans, celebrado em 28 de março.