
O Aeroporto Internacional de Salvador deu um passo decisivo rumo à aviação sustentável ao iniciar, recentemente, operações diárias utilizando o combustível sustentável de aviação, conhecido pela sigla SAF (Sustainable Aviation Fuel). Essa iniciativa marca um avanço significativo não apenas para a Bahia, mas para todos aeroportos do Nordeste brasileiro, já que a expectativa é que outros aeroportos da região também passem a adotar esse tipo de combustível em um futuro próximo, consolidando um ecossistema mais limpo e alinhado às metas globais de descarbonização.
O projeto iniciado em Salvador já permite o abastecimento de dois voos diários que conectam a capital baiana às cidades de Brasília e São Paulo, dois dos principais hubs aeroportos do Nordeste brasileiro. Nessa primeira fase, o combustível utilizado consiste em uma mistura de 10% de SAF e 90% de querosene de aviação (QAV) — proporção que já representa uma redução significativa nas emissões, mas que ainda será ampliada ao longo do tempo. A fornecedora, Vibra Energia, anunciou que irá aumentar gradualmente o percentual de SAF, seguindo padrões adotados internacionalmente, com a meta de alcançar uma mistura de até 50% nos próximos anos. Para o início da operação, a empresa disponibilizou 5 milhões de litros de SAF, volume que demonstra o compromisso da companhia com a expansão dessa tecnologia no país.
O SAF é produzido a partir de matérias-primas renováveis e resíduos que, de outra forma, seriam descartados. Entre as principais fontes utilizadas estão: óleo de cozinha reutilizado, óleos vegetais diversos, resíduos agrícolas e gorduras residuais. Esses insumos passam por processos tecnológicos avançados que resultam em um combustível capaz de reduzir até 80% das emissões de gases de efeito estufa, dependendo da rota de produção adotada. Uma das vantagens mais importantes do SAF é que ele não exige adaptações nas aeronaves ou na infraestrutura dos aeroportos, podendo ser utilizado nos tanques e motores convencionais, o que facilita muito a adoção em larga escala.
O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, comemorou a implementação da iniciativa e reforçou o protagonismo do estado na agenda ambiental, lembrando que a Bahia já se destaca nos setores de energia eólica, energia solar e mobilidade elétrica. Para o governador, o avanço no uso de SAF coloca o estado também na vanguarda da aviação sustentável, reforçando a importância de políticas públicas e investimentos privados que favoreçam a transição energética.
O CEO da Vibra Energia, Ernesto Pousada, destacou que o SAF é uma ferramenta essencial para a redução da pegada de carbono do setor aéreo. Ele ressaltou que a parceria entre o poder público, as empresas aéreas e o setor de energia é fundamental para acelerar a adoção de tecnologias ambientais de alto impacto. Em sintonia com essa visão, o CEO da Vinci Airports, Julio Ribas, afirmou que o Aeroporto de Salvador já se consolidou como referência em toda a América Latina no que diz respeito à implementação de práticas ambientais, à inovação e à adoção de medidas alinhadas às metas climáticas internacionais.
Nos demais aeroportos do Nordeste brasileiro, administrados pela Aena Brasil — incluindo as unidades de Aracaju, Maceió, Recife, João Pessoa, Juazeiro do Norte e Campina Grande — a infraestrutura para abastecimento com SAF já está preparada. No entanto, a empresa explica que a expansão efetiva dependerá da viabilidade econômica, já que o custo do combustível sustentável ainda é maior que o do QAV tradicional. A Aena participa do fórum Conexão SAF, que reúne empresas privadas, instituições públicas, especialistas e reguladores com o objetivo de debater desafios técnicos, tributários e logísticos, além de construir soluções para ampliar o uso do SAF no Brasil.
Paralelamente às iniciativas no Nordeste, a Petrobras iniciou a comercialização do combustível sustentável de aviação a partir do Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), no Rio de Janeiro. A estatal tornou-se a primeira produtora nacional de SAF certificado segundo as normas da ICAO (International Civil Aviation Organization), que regula a aviação internacional. O primeiro lote disponibilizado, de 3 mil m³, corresponde ao volume aproximado consumido em um dia nos aeroportos do estado do Rio de Janeiro, demonstrando a capacidade da Petrobras de contribuir de forma concreta para a transição energética no setor aéreo.
Produzido por meio do coprocessamento no parque de refino da companhia, o SAF brasileiro segue rigorosos padrões internacionais e se apresenta como uma alternativa competitiva para reduzir emissões sem comprometer a eficiência operacional das aeronaves. A partir de 2027, as companhias aéreas brasileiras deverão utilizar o combustível sustentável obrigatoriamente em voos internacionais, conforme as regras do programa CORSIA, e também em voos domésticos, segundo requisitos da Lei do Combustível do Futuro. O produto tem certificação ISCC-CORSIA, garantindo rastreabilidade de matérias-primas e redução de até 87% das emissões líquidas de CO₂ na fração renovável.
Essa combinação de esforços — envolvendo governos, aeroportos, empresas aéreas, fornecedores de energia e fóruns de discussão — representa um avanço importantíssimo na transição energética do setor aéreo brasileiro. Além de contribuir para a mitigação das mudanças climáticas, o uso crescente do SAF impulsiona inovação, fortalece a cadeia produtiva nacional e posiciona o Brasil como um dos protagonistas na construção de uma aviação mais limpa, eficiente e sustentável.